Ainda hoje permaneço sem saber porque voltei. Desci as escadas e a angústia que carregava no peito me dizia que aquela talvez fosse a última vez. Como se ao sair, tivesse apagado a luz e trancado a porta; como um teatro que se enche de breu ao final do espetáculo. Eu estava repleta de breu. Os olhos brilhavam apenas pelo líquido salgado que perambulava por ali antes de escorrer e escapar. Não era um brilho de felicidade, sequer de esperança. Ao apagar a luz, era como se também tivesse apagado do horizonte qualquer prospecto de futuro promissor. As águas que imaginei rolando por baixo de nossa ponte não eram mais de um rio cheio de vida, mas das minhas lágrimas que escorreram por algumas noites seguintes. Meus pensamentos buscavam alguma forma de racionalidade, o óbvio, o objetivo. Mas só o que conseguiam era imaginar tudo o que acontecia naquele lugar que já parecia tão meu. Alguém subiu aquelas escadas; as mesmas que eu havia descido no dia anterior. E ficava me perguntando se por ventura conseguiu acender as luzes que apaguei. Meu eu, já tão fora de mim, gritava. Eu queria ser a causa do brilho e da luz que não entra pela janela, mas ao contrário! Um brilho que transborda, que não se aprisiona em caixas ocas.
Não sei porque voltei, e racionalmente não daria conta de explicar. Mas ao subir aquelas escadas de novo, uma luz voltou a se acender. Uma luz que refletia outro tipo de energia, outra forma de brilho.