terça-feira, 28 de outubro de 2008

Devaneios às 4:30 AM

Sentimentos são definitivamente aquilo que anima as nossas vidas. É como se fôssemos amorfos até o descobrimento das nossas capacidades de sentir. Sentir medo, vergonha, carinho, saudade... Os nomes podem ser muitos e, ainda assim, insuficientes. Afinal, a vida não cabe em classificações. Ela é infinitamente mais ampla do que as categorias que nós criamos para enquadrá-la e assim tentarmos uma espécie de padronização dos sentimentos. E hereditariamente, com todas as atribulações que o cotidiano traz consigo, esquecemos de prestar atenção a esses pequenos detalhes que podem fazer toda a diferença. As idéias de amor, casamento, família e afins têm mudado constantemente do lado de cá. Iniciou-se um processo de desconstrução de tudo o que foi até agora. Ainda que lento, ainda que gradual, o pontapé foi dado e não há mais como voltar atrás. Os questionamentos surgem a cada momento, os mais imprevisíveis, como esse agora. Mas que justamente por esse motivo demonstram-se espontâneos e honestos com eles próprios. Estão longe de serem questionamentos programados, previsíveis ou pré-conceituosos. Pode ser que na ânsia do imprevisível muita coisa se perca, mas ainda assim é válido. E por mais apreensivo que seja, prazeroso. São sentimentos tão estranhos, que aparecem e somem com estopins fora de quaisquer planos. Em meia dúzia de palavras a nossa relação de amor e ódio acontece e se desfaz. E por incrível que pareça é possível enxergar o que há por trás dela. No final das contas é um carinho que existe e permanece, haja amor ou haja ódio. Irrita, alegra, desanima, entristece... mas ainda assim é o que faz a vida ganhar temperatura, cor, sabor, textura. Ainda assim é o que faz com que nós sintamos estar vivos. Ainda assim é encantador e vale a pena! Portanto, ajude a fazer valer! Os devaneios agradecem.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Como ser um best-seller em apenas 10 dicas!

Estar na lista dos livros mais vendidos é um dos objetivos de uma gama de escritores contemporâneos. Se para Homero esse objetivo não constava nem em seus sonhos mais distantes, Paulo Coelho e sua turma são os revolucionários da vez. Ficam as dicas de como entrar para o tal "clubinho":
1) Títulos que envolvem mística ou alguma super descoberta da ordem mais secreta fazem com que seu livro saia muito rapidamente da prateleira para as mãos dos leitores.
2) Livros que são como manuais vendem feito água no deserto. Numa sociedade onde até relógios têm bússolas, fornecer um norte ao leitor é de grande bondade.
3) "Como ser/estar/permanecer/ficar" e todos aqueles outros verbos que tornem as pessoas o que elas desejam em apenas 10 passos é um ponto positivo para alcançar o patamar de livro mais vendido.
4) Numa sociedade onde programas de fofoca têm grandes picos de audiência, lançar auto-biografias cheias de escândalos, confissões bombásticas, além de muito sexo, drogas e rock'n'roll são ótimas.
5) Ter uma pitadinha de auto-ajuda é fundamental, porque nada mais independente na pós-modernidade do que livrar-se de problemas sem a ajuda de um psicanalista.
6) Se a sua auto-estima como escritor for muito bem, obrigado, polemize! Nade contra a maré e ouvirá seu nome em infinitas rodinhas de discussão pelo mundo.
7) Tenha um passado cheio de podres, pois ele coopera para polêmicas do tipo "como um ex-bixo-grilo pertence à Academia Brasileira de Letras hoje?''
8) Sexo vende muito! Então, nada mais fenomenal do que reunir todas as suas aventuras sexuais em um livro básico de confissões. Principalmente se envolver homens casados, jogadores de futebol e afins. Como sugestão de nome, algo que seja peçonhento, tipo "Veneno da"... Aranha?!
9) Debater a eterna guerra dos sexos também pode ser um trunfo importante. Todas essas mulheres desesperadas por um marido comprarão, no intuito de descobrirem fórmulas mágicas e simpatias para segurar o bofe, além dos orgasmos múltiplos...! Mas caso você, escritor, não saiba todos esses segredos, coloque apenas o número de uma boa mãe-de-santo. Ajuda...
10) E para fechar com chave de ouro: nunca siga as dicas de seu livro. O risco de não dar certo é altíssimo e isso pode gerar crises existenciais de sexto grau. Utilize a imaginação, mas não execute-a! A vida precisa de muito mais que 10 passos...



- Resposta da única prova do curso de Jornalismo onde não há castração da capacidade imaginária de seus estudantes. É por isso que eu tenho tanta vontade de abraçar o professor Jean. Abraço de urso nele! Via Buddy Poke, por enquanto...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Nossa vez de jogar

Era apenas uma menina, que nasceu assim, sem mais nem menos. Sem pensar muito no porque e de onde veio, simplesmente veio. Já estava aqui e esse era o fato primordial, senão o mais importante. Agora era simplesmente correr atrás do prejuízo. Foi expulsa do confortável mundo que habitava. Lá não lhe faltava comida, nem água, nem horários de sono. Até um bate-papo rolava de vez em quando, acompanhado de carinhos vindos das mais diversas mãos. Lá ela sentia-se importante e protegida. Aquele pequeno mundo era seu enorme mundo. Nele existia tudo o que de mais grandioso ela já havia conhecido. Até que, ainda sem saber porque, acabou. Quando percebeu algo estranho estava acontecendo. De seus olhos escorriam um líquido salgado, enquanto que pela sua boca e nariz passava uma nova sensação, algo que era como combustível para que seu choro pudesse ecoar. Aquilo era ar. Um sentimento diferente tomou conta da pequena garotinha. Sentia-se trabalhando para que pudesse sobreviver. Não mais bastava o que havia feito naquele espaço tranquilo que um dia habitou. Era preciso sobreviver em meio a toda aquela infinidade de novas coisas. Era tudo muito corrido. Alguém virou-a de ponta cabeça, esperou que chorasse, logo cortaram-lhe o que durante 9 meses fora seu, limparam, enxugaram, embalaram. Mas por mais cuidados que recebesse, faltava-lhe algo. Algo que ela não sabia explicar. Simplesmente algo que foi perdido. Ficou entre o velho e o novo mundo, o conforto e o desconforto, o sossego e a luta diária. A pequena garota ainda estava muito longe de saber o que lhe aguardava. Estava muito longe de imaginar a falta de limites do mundo aqui fora. Muito longe de imaginar quais seriam os seus limites. As palavras do mundo para ela mudaram de tom, as cores ganharam tons, as formas passaram a existir, com nome e sobrenome. Tudo era muito novo e em muitos momentos o que lhe restou foi aperfeiçoar a primeira das armas que lhe permitiram ter: chorar. Ainda não entendia muito bem porque chorava. Era um misto de desconforto, medo, fome, cólica, desamparo. Chorava porque ali não se sentia acolhida. A sua arredoma perdeu o líquido que a fazia viver. Era como se houvessem tirado o encanto de algo que lhe era essencial. O encanto foi embora e a solidez implacável mostrou-se perante os sentimentos e sentidos. Seus gestos que agiam passaram a reagir contra ela. Ela conheceu, ainda que sem nome, o que são conseqüências. E depois de muito tempo aprendeu que conseqüências não vêm sozinhas, mas em cadeia. Uma espécie de efeito dominó. A primeira desencadeia a próxima, e a próxima, e a próxima, até que a conseqüência final bate à porta. As mesmas sensações daquele primeiro dia, onde tudo é novidade, retornam. Ela tem a novidade nua e crua esperando logo ali. Basta girar a maçaneta e pisar para o lado de lá. O desamparo, o medo, o desconforto... A menina, que já não é mais tão menina, sente tudo isso novamente. E dessa vez, o caminho que o ar percorre é o contrário. Ele não mais enche seus pulmões para a vida, mas retira pouco a pouco a vida de seus pulmões. E vagarosamente, como dando tempo para que ela possa rememorar todo o jogo de dominó que se sucedera até aquele instante, ela cede. Dá o suspiro final, devolve todo o ar que o mundo lhe emprestou e parte rumo ao outro lado. Não há como saber se haverá ar, pulmões, cores ou dominós. É esperar a nossa vez de jogar...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

ECO - ECo- Eco- eco...



A falta que o conteúdo faz. Parece um pouco prepotente dizer isso na posição de quem, teoricamente, tem conteúdo. Parece não, talvez seja de fato. É certo que não dá para medir pessoas em escalas, de 0 a 100 e colocá-las em um ranking. E acredito que, mesmo que fosse possível, melhor seria não fazê-lo. Principalmente porque estamos lidando com humanos. Que podem até não SER de acordo com a nossa percepção, mas que ainda assim... humanos. É difícil querer classificá-los se a cada pequena variação teríamos que abrir novos e novos critérios. Provavelmente os critérios seriam um para cada habitante do mundo, numa proporção exata, sem mais nem menos. Generalizar não é algo que me agrade. Perde-se a essência das coisas, aquilo que torna ela daquela forma, exatamente como ela é. As pessoas têm essências. Uma coisa modificada e pronto, não seriam como são, mas de outra forma que não esta. Parece paranóico pensar nisso tudo. ''Se a Mayara não gostasse de brócolis tudo seria diferente...'' Pode ser que sim, pode ser que não. Trabalhar com hipóteses, usando o ''SE'' no lugar dos fatos que são podem nos deixar malucos, a ponto de imaginar infinitamente e sem chegar a uma conclusão de fato, porque o que é, é.
Mas ainda sobre conteúdo, já vestindo a carapuça de prepotente, é triste conviver com pessoas-moldes. Talvez eu consiga explicar o termo pensando em uma fôrma, que possui os contornos, as formas definidas, moldadas como queremos, de acordo com nossas preferências, mas que ainda assim permanecem ocas por dentro. E isso faz com que a resistência delas seja baixa. As pessoas-moldes são quebradiças, cedem a qualquer força maior e se rompem, corrompem. Lidar com elas pode ser um grande teatro de marionetes. São apenas moldes, que por não terem conteúdo necessitam de quem tenha em seus lugares. E é nesse momento que abrimos brecha para quem quiser. A chance de manipular aumenta significativamente. ''Em terra de cego quem tem olho é rei'', e em terras ocas, quem tem conteúdo também pode ser. Não é necessário ser culto, conhecer Godard e Almodovar, os nomes de todos os prêmios Nobel de literatura, ter ido ao museu do Louvre por 7 vezes, nem absolutamente nada disso. Só é necessário criar filtros para poder digerir o que é enfiado goela abaixo todos os dias, para processar todos esses conteúdos e poder ter qualquer opinião palpável sobre eles, sem ter que ficar recorrendo às opiniões alheias. Não é necessário descobrir todas as verdades essenciais do mundo, mas é importante ter espírito crítico para criar ao menos a sua verdade. Porque talvez ela seja a maior verdade do mundo, uma vez que você crê. E esse pode ser um dos pontos chave de toda essa discussão. Filtros, conteúdo, digerir, verdades próprias. Seria mais fácil caso vendesse em lojas de conveniência, mas ai caminharíamos para uma outra discussão das produções em série, etc etc etc. Melhor pararmos por aqui. Por enquanto...



PS: Jorge, esse é para você, para as capivaras e para os moldes que encontramos por ai. Eles estimulam nosso blog a sobreviver. Janis tá contigo!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O diário, no limite...



Não poderia deixar de escrever algo a respeito da heroína da vez. Tá certo que ela foge de todo e qualquer tipo de padrão aceitável por aqueles que são fãs de uma digna heroína, daquelas bem poderosas, que lutam feito samurais e mesmo assim conseguem conservar o feminino e o sexy bem por perto. É justamente por isso que encontrei a minha heroína. Ou melhor dizendo, a minha anti-heroína. Se Macunaíma era o nosso herói sem nenhum caráter, Bridget Jones é a escolhida. Não que ela não possua caráter, mas está longe de ser as gostosonas enérgicas. Ela é simplesmente uma gordinha desajeitada, que vive fazendo merda no jornalismo e tem a vida amorosa mais conturbada que uma pane de avião. Pontos em comum não são meras coincidências. Exceto pelo fato de que ela possui dois galãs hollywoodianos brigando por ela a qualquer custo, com direito a bofetadas e pontapés no meio da rua. Há quem critique também pelo fato de Bridget estar entre os filmes da tal Hollywood. Ok, não é cult, não é Godard, não ganhou o Urso de Ouro... mas vale a pena. Perdi as contas de quantas vezes assisti. Confesso que em todas as vezes a sensação no final era sempre parecida. ''Caramba, eu quero ser Bridget!''. Tá, pode ser exagero, mas o filme traz suas reflexões. Se me permitem...
Tem mais de 30 anos, vários quilos acima do peso ideal, solteira, carreira instável, desengonçada, destrambelhada, atrapalhada, etc etc. Teria tudo para ser a figurante de um filme qualquer, onde a estrela principal é o oposto de tudo que já foi citado. O cabelo dela não brilha, as bochechas são enormes, ela não sabe cantar/dançar/representar, acabou indo pra cama com o chefe e pediu demissão. Caramba! Dá para passar horas discursando sobre tudo o que Bridget não é, o quanto ela não está nos padrões e o quanto ela está longe deles. E é justamente por isso que ela é a heroína da vez. Poder atracar-se ao pote de sorvete sem culpa é maravilhoso. As pessoas têm que começar a entender que celulite existe e que o Photoshop também. As capas de revista são apenas capas de revista. Fotografias que não refletem nada do que aquela pessoa é. Simplesmente tiram o que podem da sua roupa e colocam à venda. E esse é o rumo para alcançarmos a eternidade e os exageros: a eterna busca pelo perfeito, que só existe naquele pedaço de papel, e os exageros com do corpo em detrimento da mente para chegarmos àquilo. Já discursei sobre a produção em série que chegou ao mundo corporal. Os modelos despencam de todos os cantos, querendo vencer pelo cansaço e pela insistência. Afinal, acordar e dormir recebendo na cabeça ''seja assim, não seja assado, tenha bunda, não tenha barriga, coxas grossas, cintura fina...'' Fossiliza. Em algum momento, fossiliza.
Não dá para negar que beleza ajuda. Mas dá para comprovar que não se sustenta sozinha. Pelo contrário, ela pode ser conseqüência das tantas outras coisas que há lá no fundo, do lado de dentro. O externo é reflexo. Pode até não ser num primeiro momento, mas logo denunciará a si mesmo. E tudo isso, no fim das contas, é para confessar minha ''fase Bridget''. Com o pequeno detalhe de que ela tá pegando e eu não. Mas como eu já disse, é só um mero detalhe. E detalhe para uma oooutra história...

sábado, 11 de outubro de 2008

O entretempo

É como o espaço vazio entre o ponto final e a maiúscula da frase seguinte.Não tem nada ali, mas ele tem a sua função. Há alguma coisa naquele vazio. E nós todos, secretamente, sabemos.
É ali que agora me vejo. Entre uma coisa e outra. Naquele exato momento em que uma porta se abre, mas ainda não enxergamos quem ou que está por vir. E nosso olho, fixo na fresta, se enche de fascínio e medo.
Nos segundos em que a porta fica entreaberta, as coisas não estão acontecendo ou deixando de acontecer. Elas estão escondidas no antes e no depois. E, esmagados entre o passado e o futuro, nós permanecemos até o vazio tomar forma.
Um pequeno espaço de tempo onde as coisas respiram e tomam coragem para derramarem-se sobre nós. E nós - curiosos, aflitos, cheios de ansiedade - aguardamos. Mas, entre um roer de unhas e outro, há uma reconfortante compreensão: Se a maiúscula vier na letra esperada, teremos muito mais que uma nova frase.

- Cassiano Rodka

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