sexta-feira, 19 de agosto de 2016

19 de agosto de 2016

Você me surpreende quando aparece e me deixa surpresa quando desaparece. Em mais uma noite comum, escolhe a roupa, pinta o rosto, disfarça as imperfeições e sai de casa. A noite corre tranquila, com passos de dança temperados com o suor do corpo. E sua presença salta, confessando o desejo e admitindo o momento inoportuno.
Dias depois a oportunidade plantada em um sábado cheio de intenções. A incerteza, a linguagem corporal, os olhares que dizem o que as bocas ocupadas não conseguem. E de repente estamos nós de novo, dentro de uma câmara fria com pedaços de mim pendurados em ganchos de carne.
A minha carne que sangra e me faz acordar de sonhos intranquilos durante madrugadas inquietas. E quando a ferida estancada, novamente a porta se abre e a presença se faz. Materializada, carnal, com digitais que apalpam e marcam todos os pedaços do meu corpo que insiste em querer ser seu.
Mas você não perdura, porque sua timidez liberta te suga para dentro de si mesmo sem chances para o meu afeto que existe. E agora o quarto gélido que ainda assim me faz suar enquanto sonhos e pesadelos dominam o meu inconsciente. Sonhos e pesadelos que carimbam suas digitais mais fundas do que sua mente confusa e egoísta imagina. 

terça-feira, 16 de agosto de 2016

16 de agosto de 2016

Hoje o dia já começou um pouco mais pesado que o normal. A garganta arranhava por conta do início de um resfriado e a alma ardia num misto de sentimentos difíceis.
Desde fevereiro eu trabalho em um site de notícias. O Jornalismo, até então renegado como um filho bastardo, ocupou meus dias e noites, e passou a ser mais uma das coisas que me movem. Mas como tudo na vida, essa é uma profissão repleta de ônus e bônus, com diversas pitadas de surpresa.
Todos os dias eu acordo e não sei como vai ser o meu dia. Não faço ideia de quais notícias terei que escrever, com quais pessoas terei que falar, sobre quais assuntos terei que tratar. Como disse há algum tempo, fiz Letras e lidei por alguns anos com autores mortos, que sobrevivem em estantes empoeiradas; mas agora, resgatei o Jornalismo e lido diariamente com pessoas vivas, pulsantes, com energias que circulam e me afetam cotidianamente.
Mas nem por isso deixei de lidar com a morte. Ao contrário, talvez eu nunca tenha ficado tão próxima dela, e com a quase-obrigação de me manter firme diante de todo o espectro que ela carrega ao seu lado.
Hoje o dia começou um pouco mais pesado que o normal. Abri os olhos e fui checar as pautas que me esperavam, quando me deparei com a imagem de uma moça baleada no meio fio. A primeira coisa que reparei foi as pessoas em volta dela com uma naturalidade que me assustou, seguida pela segunda coisa que foi imaginar a pessoa ali, que sacou o celular do bolso e fez o registro. Preciso dizer que a morte nunca foi um assunto natural para mim. É preciso dizer que minhas condições sociais me afastaram de balas perdidas e de acordar com sangue respingado na parede. Portanto, ver a composição dessa cena mexe com todos os meus nervos e sentimentos.
A notícia era a seguinte: a moça, uma jovem de 22 anos, havia tentado assaltar um estabelecimento comercial com mais dois amigos em um bairro de Assis. A linguagem denuncia toda a falta de aproximação. A linguagem da "imparcialidade" de quem conta os fatos para que os outros saibam e a notícia circule. E eis o ponto: eu sabia que essa seria uma das notícias mais lidas do dia e, a depender da tranquilidade do resto da semana, ela repercutiria até a próxima grande tragédia.
As pessoas leram e comentaram coisas como "bem feito", "menos uma", "bandido bom é bandido morto", e mais uma infinidade de palavras que me arregalam os olhos. Além de toda a naturalidade já dita anteriormente, os discursos de ódio não possuem limites.
Hoje o dia começou um pouco mais pesado que o normal. Diariamente sou obrigada a conviver com casos parecidos e diariamente sou obrigada a lidar com a incredulidade. Os deuses do Jornalismo que me perdoem, mas ainda está para raiar o dia em que situações como essa não me abalem. Não posso me dar ao "luxo" de deixar de fazer o meu trabalho da melhor forma que eu puder, mas ninguém pode me impedir de sentir e me compadecer por uma moça tão jovem estirada no meio fio como se ela nada fosse. Ninguém pode me impedir de ser humana antes de ser jornalista; de ser otimista antes de ser jornalista; de ser alguém que tem diversas críticas sociais antes de ser jornalista. Enfim... ninguém pode me impedir.
Hoje o dia começou um pouco mais pesado que o normal e certamente isso vai ecoar, seja amanhã ou depois. Vou dormir pensando que, apesar dela também ter ameaçado a vida de outras pessoas, o trajeto para que ela chegasse até o fim da linha também foi ameaçador. Que nada nos impeça de sermos mais humanos, para quem sabe a gente possa naturalizar cada vez menos a grande espetacularização da tragédia.

JORNAL DA MORTE

terça-feira, 9 de agosto de 2016

9 de agosto de 2016

Diariamente descubro pequenos tesouros dentro deste baú que sou eu mesma. Quando digo às pessoas sobre minhas características, de forma tão natural e espontânea, penso que não sei determinar ao certo qual foi o instante em que tais conclusões se tornaram minhas verdades.

Não sei precisar desde quando admiro impulsos repletos de espontaneidade e a coragem que é necessária para que eles rompam as barreiras desse espectro do "melhor não" que nos ronda.
Hoje deparei-me com o seguinte texto:

"Eu gosto do impulso. De palavras de ternura que são ditas do nada, fora de contexto. Gosto de abraço apertado não necessariamente na chegada ou na despedida. Gosto do brinde em dias banais. Gosto do sorriso de canto que só dá a pessoa que muito te compreende. Gosto de coisas sem hora marcada. Gosto do acaso que depois a gente diz que não poderia ser acaso, que era assim que era pra ser. Gosto da poesia que brota das pontas dos dedos e se escreve rápida e urgente. Gosto de quem manda mensagem três da manhã porque lembrou de alguma coisa terna. Gosto de quem não sabe conter a paixão. Eu gosto assim." - Ryane Leão (Onde jazz meu coração)

Ultimamente descobri em meu baú a importância de tudo que não parece importante. Toda uma geração que se diz libertária e ainda se preocupa com quem mandará a mensagem de bom dia no dia seguinte, pois não quer ser o primeiro a dar a cara a tapa e "parecer desesperado". Desespero mesmo é ficar sufocando gestos e palavras que poderiam arrancar sorrisos despretensiosos às 15h de uma quarta-feira qualquer. 

Aos poucos tenho tirado minhas armaduras e tido a coragem de assumir o desespero em aproveitar cada raro instante ao lado daqueles que transformam a minha vida. Quero ver o sorriso de vocês enquanto os meus olhos ainda estão arregalados e atentos às pequenas magias do dia-a-dia. Quero ser presença presente enquanto meu corpo ainda pode sentir o cheiro de chuva e o toque que arrepia. Quero poder acordar às 4h da manhã e mandar uma mensagem dizendo que sonhei com você. Só o que não quero é ter que afogar essa enxurrada de coisas que sinto porque um dia disseram que era prejudicial dizer bom dia no dia seguinte. 




quarta-feira, 3 de agosto de 2016

3 de agosto de 2016

Em tempos de aparência parecer mais importante que essência, talvez tenhamos nos acostumado a não sermos honestos com as pessoas a nossa volta. Sempre em jogos onde não há vencedores, tentando fingir ser aquilo que não é (ou talvez seja), temos nos esquecido o quanto é importante dizer a elas o quanto são especiais, sem datas comemorativas ou pretextos. Não precisa disfarçar não. Tá liberado dizer que do fundo da sua alma ela é importante e que essa presença te arranca sorrisos. Os mais sinceros sorrisos.