domingo, 31 de maio de 2009

Segundo plano



O gosto amargo e dolorido do plano segundo...

sábado, 30 de maio de 2009

Bad trip

Dia meio assim, meio assado, e ela continua sozinha. Fazia mais ou menos uma semana que ela parecia não despertar verdadeiramente para o mundo. Ficava uma sensação de desconforto e cansaço desde o momento em que as pálpebras abriam até o momento em que elas se fechavam. Ultimamente o mundo lhe assustava. Em curtos períodos de tempo uma enxurrada de coisas tão amargas. "Quem foi que botou a chuva dentro dos meus olhos?", perguntava-se enquanto a música ecoava pela sala.
Os dias surpreendentes nem sempre dão dicas de que estão por vir. Foi assim... Prolongou todas aquelas sensações durante mais um dia, até a tarde fatídica. Tivera uma epifania tão envolta em sonhos, mas ao mesmo tempo tão nítida... A nitidez necessária para não saber distinguir entre sonho e real, se eram meras alucinações ou o que seria seu mundo para sempre. Era como se tivesse sido transportada para outra dimensão, idêntica à sua onde viveu por toda sua vida, porém onde nada era verdadeiro. O simulacro do mundo que pareceu sempre tão real e certo. Sua consciência brigava consigo mesma na tentativa de conseguir definir o que era mundo, o que era alucinação, o que era divino... Mas ainda havia ele ali. Uma das pessoas mais amadas da sua vida tomou formas que amedrontavam. Sentia como se a função dele fosse fazer-lhe companhia e despistá-la ao mesmo tempo, para que não houvesse chance dela escapar. Alice no país das maravilhas nunca fizera tanto sentido! Ele, o coelho; ela, Alice; o mundo, uma fumaça de alucinações nítidas e medo. Só conseguia imaginar quanta coisa deixou para fazer na realidade que sempre esteve em suas mãos e não soube aproveitar. Agora era uma prisioneira de um lugar onde nada era verdadeiro... Nem os sentimentos. O peito ficou apertado e a vontade de chorar era enorme! Mas algo impedia as lágrimas de correrem pelo rosto. Na mente, um turbilhão de pensamentos tão lógicos, num encadeamento que jamais pensara em alcançar. As associações faziam tanto sentido e era impressionante como nunca tinha pensado nisso antes! Mas interrompia as descobertas cada vez que imaginava ''isso não é real, eu não voltarei, dor, dor, dor". Não sabe dizer quanto tempo aquilo tudo durou... Parecia uma eternidade que o relógio não sabia acompanhar. Tentou dormir enquanto ele fora buscar algo para comer. Olhos abertos, olhos fechados... o turbilhão prosseguia.
Impossível dizer como essa história acabou, pois o fim ainda não chegou. Principalmente a clareza do que é verdadeiro ou falso....

pingado

Talvez um tanto quanto órfã

terça-feira, 19 de maio de 2009

E então...


Sentia um nó na garganta daqueles inexplicáveis. Nunca sentiu o peito tão apertado como agora estava. Repetia para si mesma como odiava surpresas e o quanto queria viver longe delas. Era mais fácil assim, planejando e tentando prever os acontecimentos. Mas daquele dia em diante a vida saiu dos eixos e a cada dia aparecia com uma novidade inesperada. Primeiro ele, depois a pancada. Acertou em cheio e ficou zunindo na cabeça pelo resto da vida. Conheceu mais um momento de epifania, como um flash que depois faz tudo voltar à escuridão novamente. Mas era um flash dolorido, daqueles que nos faz levar as mãos aos olhos, na tentativa de nos protegermos. Tão de repente, sem avisos, sem dicas. Sem caminho que levasse ao clímax da situação, caiu de para-quedas em meio ao desalento. Conheceu gostos amargos e sentiu como algumas coisas podem ser difíceis de descer garganta abaixo. Mas esforçou-se e desceram, já que sempre tivera o costume de engolir tanto as frutas quanto os caroços. Quis gritar, chorar até que o cansaço invadisse corpo e mente para fazê-la ao menos dormir, correr sem freio e sem destino, ir embora, ficar afastada, enterrar a cabeça na areia e não ver a cara do mundo durante muito tempo. Mas só o que conseguiu fazer foram algumas expressões incontidas de surpresa e dizer que tudo estava bem, enquanto sentia medo de vê-lo daquela forma em suas mãos. Trêmulo, transparecia um misto de tristeza e desespero. A cabeça dela girava transtornada, sem conseguir deixar nítida a linha entre sonho e realidade. Caminhou em torpor pelo resto da noite, como numa alucinação um tanto quanto real. A dor era de verdade... Sentia pontadas e aquele nó. Oscilava entre a respiração calma, até que qualquer coisa desencadeasse o ar pesado que entrava como aço nos pulmões. Cortou como faca e algumas provavelmente ficaram. A cada movimento algumas machucam mais ou menos, latejam e clamam para serem retiradas dali. Mas ela não sabe o quão fundo foram enterradas. É preciso calma e paciência para retirar todas e não deixar que nenhuma seja esquecida. Pediu aos céus qualquer ajuda que pudesse amenizar essa dor o mais cedo possível e deixou que o corpo afundasse em algum lugar do mundo.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ela e as companhias

A música que soava ao fundo era melancólica com um tom de graciosidade. Algo como as marchinhas de carnaval repletas de melodias alegres mas com conteúdos pingados de lágrimas. Ouviu atentamente por alguns instantes e em seguida pediu ao garçom que lhe servisse mais uma dose. "Mas uma dose daquelas, sr. Antônio!". Sr Antônio era garçom daquele boteco há algumas décadas. Dizia que já havia visto de tudo por ali e orgulhava-se disso. Eram olhos que a terra provavelmente haveria de comer com gosto. Sr Antônio logo pegou a garrafa e despejou no copo daquela que ali estava na frente dele desde as quatro da tarde. Sabia que ela mal acharia o caminho de casa e que ele mais uma vez se atrasaria para chegar à sua. Ela não sabia ao certo como fora parar ali. Saiu da casa dele envolvida numa confusão entre o que era real e o que era devaneio. Acreditava que tinha ouvido ele falar que não queria mais, que era melhor parar por ali. Mas já havia dias que ela não dormia direito, sonâmbula, insone. A mente fervilhava, frenética. Tudo parecia muito rápido para um corpo que se arrastava devagar. Atravessando a rua, esperou que o semáforo apagasse e acendesse duas vezes, até voltar a si mesma e atravessar... enquanto ele indicava vermelho aos pedestres. Rodou no próprio eixo tentando desviar das latas que se locomoviam e ouviu palavras agressivas antes de cair no asfalto quente daquele dia infernal. Foi quando sr Antônio perguntou se ela precisava de ajuda. E ajuda era o que ela mais precisava! Disse a ela que estava já atrasado para o trabalho e por isso não poderia acompanhá-la até em casa, mas caso ela quisesse acompanhá-lo, seria ótimo ter companhia. Lá encontrou não só o companheiro Antônio, mas Johnie Walker e toda a trupe. Afogou-se em goles, arriscou alguns passos de dança, pediu a última dose (daquelas!) e finalmente deixou o corpo perder-se no repouso que tanto clamou. Mas a mente.... a mente nunca pára!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Eco

A vida parecia um cobertor pesado que, enquanto arrastava-se pelo chão, carregava tudo o que conseguia. Vivia no inferno e sabia bem disso. Sentia o peso do caos todos os dias, quando acordava e quando ía para a cama desmaiar de tanto cansaço. Há tempos não sonhava, talvez porque até para isso estava exausta. Era uma panela de pressão sem válvula de escape. Sentia que tudo ao seu redor fervilhava, ao mesmo tempo em que nada era quente o suficiente para confortar. Objetos frios, pessoas frívolas, olhares congelantes, concreto, concreto, concreto...
Escolheu em meio à bagunça aquele vinil preferido, que parecia aguardar por ela há muito tempo. Levantou a tampa da vitrola e colocou-o para rodar. Olhava para os movimentos circulares do disco, enquanto lá do fundo emergia uma sensação de um torpor angustiante. Ultimamente estava no misto das coisas. Não diferenciava mais nada nitidamente. Tudo era partido ao meio e fundido a outras metades. Sentia como se não fosse mais nada por inteiro. Não alcançava êxtase, não alcançava o gélido... era morna. Morna, sem sal nem açúcar, em cima do muro, entre cá e lá. A vitrola emitia sons que penetravam lá no fundo e pensou como estava deixando as coisas passarem tão longe. Marginalizada de sua própria vida, os olhos não mais dirigiam-se a ela, as bocas, as mãos, os afagos, os tapas... Nada, parecia que não tinha mais nada. Um fantasma perambulando pelo mundo dos vivos. Sabia que não mais vivia, apenas prolongava. E a música continuava a tocar, ecoando pela sala suja, vazia, cheia de nada. Oca. Socorro-socorro-socorro-soco-so...

Suspiro apertado

O sol perdia a nitidez enquanto mais uma lágrima rolava. Pensou que esses eram os momentos em que o frio daquele líquido salgado unia-se ao calor daquele grande círculo em chamas. Em chamas também estava seu corpo, ardendo febre. Correu para debaixo daquele seu cobertor preferido, feito pelas mãos tão cuidadosas da avó. Sentiu tanto quando ela partiu, um nó tão apertado que não deixou que uma lágrima sequer rolasse. E agora eram tantas...
O estômago revirava, num misto de fome e rejeição. Não comera nada durante o dia todo e lembrou dele dizendo que ela precisava se alimentar melhor. Talvez sentisse que já andava fraca, já que a palidez era visível. Invisível era apenas a fraqueza interior. Bastava acordar para sentir que estava prestes a desfalecer. O coração apoiava-se no que podia, mas não aguentaria muito tempo... Lutava para manter-se ao menos batendo. Deixara de sentir havia tempos. Mas sentimentalidades era algo que ninguém mais tinha coragem de cobrar daquele pobre. Era um doente em estado terminal, com bilhete de partida já em mãos. A única coisa que sobrou foi o medo. Mesmo sabendo que a situação nunca mais seria revertida, sentia medo de ir embora. Poderia ser tão de repente, né? E se não desse tempo de se despedir? Ficaria eternizada a sensação de ''algo ficou para trás'', como já estava acostumado. Porém, o caminho estaria fechado dessa vez. Suspirou apertado...

Desabafo

Escreve como quem precisa desabrochar e exalar ao mundo a essência que contém. Boa ou ruim, depende dos julgamentos alheios. Cada qual com o seu, cada qual para si. Para ela era difícil decidir. Sentia como se possuísse nas mãos o mundo todo de possibilidades, ao mesmo tempo em que sabia (sabia?) que era, no fim das contas, somente algumas possibilidades bem sucedidas. Ok, talvez não tão bem sucedidas, mas simplesmente executadas. Constantemente algumas, raramente outras. Estava ali, viva, sendo e existindo como a vida permitia. A vida e ela mesma, pois mesmo que teimasse em lutar contra algumas tantas vezes, sabia que barrava a si mesma logo no princípio de tudo. E depois vinha a sensação de que algo havia ficado perdido lá trás. E angustiava. Lembrou-se da frase que havia lido, algo referente a "tempo morto". Pensou um pouco e ficou em dúvida sobre o que pensar mais. Provavelmente tivera tempos mortos na vida, daqueles bem apáticos, onde nem o vento soa. E então lembrou-se de uma de suas características, talvez até tida como qualidade: a senhora criadora e incentivadora de crises. Não! Não conseguia manter-se em condições diversas sem qualquer adversidade. Precisava daquele gosto amargo da tristeza assim como do gosto tão doce que era estar feliz. Angustiava mas gostava de angustiar. Não aos outros... somente a si mesma. Veneno e cura produzidos por ela, em doses nem sempre homeopáticas, algumas vezes aplicadas em tratamentos de choque. E então a cabeça revirava, um tanto quanto perdida em sono, alucinações, sanidade... Sentia vontade de gritar, sair às ruas, sentir o vento balançar os cabelos e arrepiar a pele. Queria sorrir para as pessoas, fazê-las sentirem-se ao menos notadas num cotidiano onde olhares mal se cruzam e ganharam o hábito de se evitarem. O mundo parece mais escorregadio, envolto em algo que o faz vazar... Socorro, temos um vazamento aqui! Mas definitivamente não é isso o que ela gostaria de gritar. Aliás, bastava dizer ao pé do ouvido, desde que houvesse os olhos... E pensou que nem precisaria dizer nada. Os olhos naturalmente se entenderiam...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sumiço...

Muito bem, obrigada.