Lembrou das palavras da mãe sempre tão presentes quando o assunto era problema: "vocês tem uma vida tão boa, mas ainda assim insitem em reclamar tanto... não sabem o que é um problema de verdade". Ao contrário do que sempre havia pensado, dessa vez concordou. Era uma dramática por natureza, repleta de buracos no coração que ela mesma havia cavado. Sabia que lá no fundo suas dores e amarguras eram muito maiores em sua cabeça do que a realidade apontava. Não lembra ao certo quando o hábito começou, mas sabe que otimismo nunca foi a palavra de ordem da sua vida. Sempre questionando, sempre duvidando, sempre tão cheias de expectativas para as quais desejava apenas um fim: a frustração. Talvez um pouco masoquista-melodramática, chorava mas gostava da ardência e das noites de sono perdido. Até o dia em que a vida resolveu apertar contra a parede e mandou decidir entre ir ou rachar. E então entendeu como funcionava verdadeiramente o exercício de desapego. Abriu portas, armários, gavetas e o coração, recheou sacolas e páginas daquilo que sobrava, num ciclo de acúmulo que nem mais se percebia. Ao fim, tudo limpo, somente o essencial e um mundo a menos nas costas. Apertou os olhos bem forte e desejou que aquela sensação permanecesse para sempre. Será dessa vez?
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