Depois de certo tempo os combinados passam a ficar mais caros. Contrariam o ditado popular que asseguram os acordos. As promessas podem estar fixadas na parede, registradas em cartório, autenticadas e reconhecidas, mas cedo ou tarde são esquecidas e jogadas para debaixo do tapete.
Penso nisso com boas doses de inconformidade, acrescidas com pitadas de tristeza e mágoa. Tudo poderia ser mais simples se as pessoas assumissem suas responsabilidades. Essas, que muitas vezes não foram impostas, mas resultado de longas conversas até que se chegasse a uma solução.
No meu mundo ideal ainda há espaço para o respeito. Fazer um esforço diário para tentar se colocar no lugar do outro e proporcionar o mínimo de uma relação agradável. Ao mesmo tempo, está cada vez mais claro ver que há uma dificuldade imensa nesse processo. O mundo fica o tempo todo martelando em nossa cabeça sobre a lei do mais forte, ou aplaudindo quem consegue se dar bem. E o sopro de respeito e consideração pelo outro vai ficando cada vez mais fraco... Diria que hoje sinto apenas uma leve brisa passando por aqui.
E eis a questão, porque viver é um esforço diário. Encarar tudo o que a vida implica dói, cansa, machuca... Mas porra, afinal não é isso? A gente acorda cedo, trabalha, convive, cuida da casa, dos filhos, dos pensamentos, e tantas outras coisas que precisam de nós. Tem que dar a cara para bater e ter a consciência de que vai levar tapas, socos e pontapés vez ou outra. Arriscar-se é uma qualidade de poucos, eu diria. Porque na maioria das vezes a gente opta por ficar quieto e aconchegado onde a segurança está garantida. É o momento em que o medíocre pode estar bem perto. A gente vive mais ou menos, ama mais ou menos, é feliz mais ou menos... E milhares de vezes ainda se coloca como vítima do mundo.
Infelizmente o mundo não tem pena de ninguém. O mundo é cão e a gente tá aqui, tentando dar um passo por vez na corda bamba.
E sem perder o fio da meada, o que eu mais gostaria hoje é que a brisa voltasse a ser um vento forte. De que os combinados fossem mesmo levados a sério, porque assumir algumas coisas é levar em consideração o outro. O que importa não é a coisa em si, mas o que ela representa quando é feita (ou não). Por trás de todo acordo há pessoas com sua confiança e esperança de que o outro a perceba. E que nas pequenas coisas a gente vá construindo isso que a gente chama de vida.
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