Há tempos escrevi um texto falando sobre a minha geração. Talvez ainda não fosse hora. E pode ser que essa hora também não tenha chego. Tem-se a impressão de que somente podemos pôr nossas vidas na balança quando atingimos a madura terceira idade. Elimina-se qualquer mérito jovem a favor da experiência que a idade traz. Não nego de que quanto mais idade, mais chances de ter tido experiências. Isso é algo lógico. Mas por que tanta valorização do tempo já corrido? Por que só importante aquilo que tem o peso da idade e a cor do tempo? Os jovens parece que perderam o crédito. Por mais fenomenal a atitude que ele tenha tomado ou por mais bonito o pensamento que ele tenha trazido a si, os olhares mais velhos o condenam. Quando encontramos, hoje, um jovem dizendo-se comunista, organizando atos e afins, vê-se nos olhos dos juízes a expressão: "Ele é só mais um jovenzinho querendo mudar o mundo". Ao mesmo tempo em que vemos infinidades de medalhas sendo distribuídas a ex-combatentes ou àqueles que sofreram os castigos da ditadura. E a intenção não é de forma alguma desmerecê-los. A importância deles na história é incrível. Corretíssimo que devamos distribuir honras aos méritos. Mas por que não investirmos no que ainda dá pra ser? no que ainda está crescendo? Por que não apostarmos fichas nos jovens de hoje que têm a chance de serem os senhores com medalhas no futuro?
Não sei culpa de quem. E nem sei se há culpa. Parece que caminhamos para o conformismo, cada vez mais. "Mudar? Mudar o que? É assim desde que o mundo é mundo. Eu tenho minha casa, meu carro, meu emprego e minha família feliz. Tá ótimo!". E assim continua-se o ciclo... O ciclo onde nada muda, onde nada é feito, onde tudo permanece como está.
O último exemplo mais claro que tive disso foi dentro da faculdade. As festas juntam mais pessoas do que as reuniões do movimento estudantil. Pergunta-se qual é a próxima festa da semana e todos sabem. Mas questione sobre onde fica as tais reuniões... Dos males o pior. Ainda há quem saiba. Ainda há quem se interesse. Pode até ser que não da forma como gostaríamos. Pode até ser que ainda longe da utopia que buscamos. Mas ainda resta um fio...
sexta-feira, 30 de maio de 2008
quinta-feira, 22 de maio de 2008
RETOMANDO...
"A verdadeira dívida externa." - fala do cacique Guaicaipuro Cautémoc numa reunião com chefes de estado da Comunidade Européia.
"Eu, Guaicaipuro Cautémoc, descendente dos que povoaram a américa há 40 mil anos, vim aqui encontrar os que nos encontraram há apenas 500 anos. O irmão advogado europeu me explica que aqui toda dívida deve ser paga, ainda que para isso se tenha que vender seres humanos ou países inteiros. Pois bem! Eu também tenho dívidas a cobrar.
Consta no arquivo das Índias Ocidentais que entre os anos de 1503 e 1660, chegaram à Europa 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata vindos da minha terra!... Teria sido um saque? Não acredito. Seria pensar que os irmãos cristãos faltaram a seu sétimo mandamento. Genocídio?... Não. Eu jamais pensaria que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue de seu irmão. Espoliação?... Seria o mesmo que dizer que o capitalismo deslanchou graças à inundação da Europa pelos metais preciosos arrancados de minha terra! Vamos considerar que esse ouro e essa prata foram o primeiro de muitos empréstimos amigáveis que fizemos à Europa. Achar que não foi isso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que me daria o direito de exigir a devolução dos metais e a cobrar indenização por danos e perdas. Prefiro crer que nós, índios, fizemos um empréstimo a vocês, europeus. Ao comemorar o quinto centenário desse empréstimo, nos perguntamos se vocês usaram racional e responsavelmente os fundos que lhes adiantamos. Lamentamos dizer que não. Vocês dilapidaram esse dinheiro em armadas invencíveis, terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo. E acabaram ocupados pelas tropas da OTAN. Vocês foram incapazes de acabar com o capital e deixar de depender das matérias primas e da energia barata que arrancam do Terceiro Mundo. Esse quadro deplorável corrobora a afirmação de Milton Friedmann, segundo o qual uma economia não pode depender de subsídios.
Por isso, meus senhores da Europa, eu, Guaicaipuro Cautémoc, me sinto obrigado a cobrar o empréstimo que tão generosamente lhes concedemos há 500 anos. E os juros. É para seu próprio bem. Não, não vamos cobrar de vocês as taxas de 20 a 30 por cento de juros que vocês impõem ao Terceiro Mundo. Queremos apenas a devolução dos metais preciosos, mais 10 por cento sobre 500 anos. Lamento dizer, mas a dívida européia para conosco, índios, pesa mais que o planeta terra!... E vejam que calculamos isso em ouro e prata. Não consideramos o sangue derramado de nossos ancestrais! Sei que vocês não têm esse dinheiro, porque não souberam gerar riquezas com nosso generoso empréstimo. Mas há sempre uma saída: entreguem-nos a Europa inteira, como primeira prestação de sua dívida histórica."
- O quanto é belo ter consciência. O quanto é necessário que a tenhamos. E o quanto é triste saber que tão poucos sabem disso...
Fica a dica. Ah, e o texto saiu do site da TV Cultura, do programa Provocações, com Antônio Abujamra.
"Eu, Guaicaipuro Cautémoc, descendente dos que povoaram a américa há 40 mil anos, vim aqui encontrar os que nos encontraram há apenas 500 anos. O irmão advogado europeu me explica que aqui toda dívida deve ser paga, ainda que para isso se tenha que vender seres humanos ou países inteiros. Pois bem! Eu também tenho dívidas a cobrar.
Consta no arquivo das Índias Ocidentais que entre os anos de 1503 e 1660, chegaram à Europa 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata vindos da minha terra!... Teria sido um saque? Não acredito. Seria pensar que os irmãos cristãos faltaram a seu sétimo mandamento. Genocídio?... Não. Eu jamais pensaria que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue de seu irmão. Espoliação?... Seria o mesmo que dizer que o capitalismo deslanchou graças à inundação da Europa pelos metais preciosos arrancados de minha terra! Vamos considerar que esse ouro e essa prata foram o primeiro de muitos empréstimos amigáveis que fizemos à Europa. Achar que não foi isso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que me daria o direito de exigir a devolução dos metais e a cobrar indenização por danos e perdas. Prefiro crer que nós, índios, fizemos um empréstimo a vocês, europeus. Ao comemorar o quinto centenário desse empréstimo, nos perguntamos se vocês usaram racional e responsavelmente os fundos que lhes adiantamos. Lamentamos dizer que não. Vocês dilapidaram esse dinheiro em armadas invencíveis, terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo. E acabaram ocupados pelas tropas da OTAN. Vocês foram incapazes de acabar com o capital e deixar de depender das matérias primas e da energia barata que arrancam do Terceiro Mundo. Esse quadro deplorável corrobora a afirmação de Milton Friedmann, segundo o qual uma economia não pode depender de subsídios.
Por isso, meus senhores da Europa, eu, Guaicaipuro Cautémoc, me sinto obrigado a cobrar o empréstimo que tão generosamente lhes concedemos há 500 anos. E os juros. É para seu próprio bem. Não, não vamos cobrar de vocês as taxas de 20 a 30 por cento de juros que vocês impõem ao Terceiro Mundo. Queremos apenas a devolução dos metais preciosos, mais 10 por cento sobre 500 anos. Lamento dizer, mas a dívida européia para conosco, índios, pesa mais que o planeta terra!... E vejam que calculamos isso em ouro e prata. Não consideramos o sangue derramado de nossos ancestrais! Sei que vocês não têm esse dinheiro, porque não souberam gerar riquezas com nosso generoso empréstimo. Mas há sempre uma saída: entreguem-nos a Europa inteira, como primeira prestação de sua dívida histórica."
- O quanto é belo ter consciência. O quanto é necessário que a tenhamos. E o quanto é triste saber que tão poucos sabem disso...
Fica a dica. Ah, e o texto saiu do site da TV Cultura, do programa Provocações, com Antônio Abujamra.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Só um PS
Nesse momento muitos diriam "eu era feliz e não sabia". Aquela época de cursinho, vestibular, Enem e todas essas coisas relacionadas entre si é um passado áureo se levado em conta o presente atual. Mesmo tendo que estudar aquelas matérias chatérrimas, entre exatas e biológicas... o caos era menor. A faculdade é sim maravilhosa. Experiências únicas ocorrem no campus. Pessoas únicas circulam por lá. E ainda podemos ter a sorte de encontrarmos algumas tão especiais. Mas a correria é infernal! Dormir é artigo de luxo. E comer? O suficiente para sair da calça número 40 e voltar para a 38!
E toda essa divagação é somente por causa daquela primeira frase ali: "eu era feliz e não sabia". Em um dos seminários feitos na faculdade o assunto surgiu. E algo chama a atenção. Essa frase não tem sentido algum, se considerada do ponto de vista ''filosófico''. Nesse campo a felicidade só existe se há consciência do prazer. E se você não sabia... Não, você não era feliz! Engraçado. Porque quantas vezes não dizemos isso? Aquele espírito nostálgico faz que essa frase salte de nossas bocas. E a descoberta de que aquilo que confortava não era felicidade! Pode ser, ou melhor, podia ser qualquer coisa. Mas não era felicidade. Quebra de clichê!
E vou indo agora porque minha cabeça está confusa e ainda precisa trabalhar muito ainda nesta madrugada. Fica de lembrete para quando eu realmente estiver inspirada, e não querendo fazer "apêndices sem sentido" no bobolog!
E toda essa divagação é somente por causa daquela primeira frase ali: "eu era feliz e não sabia". Em um dos seminários feitos na faculdade o assunto surgiu. E algo chama a atenção. Essa frase não tem sentido algum, se considerada do ponto de vista ''filosófico''. Nesse campo a felicidade só existe se há consciência do prazer. E se você não sabia... Não, você não era feliz! Engraçado. Porque quantas vezes não dizemos isso? Aquele espírito nostálgico faz que essa frase salte de nossas bocas. E a descoberta de que aquilo que confortava não era felicidade! Pode ser, ou melhor, podia ser qualquer coisa. Mas não era felicidade. Quebra de clichê!
E vou indo agora porque minha cabeça está confusa e ainda precisa trabalhar muito ainda nesta madrugada. Fica de lembrete para quando eu realmente estiver inspirada, e não querendo fazer "apêndices sem sentido" no bobolog!
A vida é uma sucessão de instantes. A cada instante que passa, uma chance perdeu-se ou fez-se. Muitos de nós estamos cegos. Nos atemos tanto ao grande plano que esquecemos as pequenas chances que passam por nós. Pequenas não no intuito de diminuí-las. Pequenas por serem somente perceptíveis a olhos bem atentos. É como uma pequena brisa. Todos os dias ela chega até nós. Todos os dias nos esbarramos em algum lugar qualquer. Mas quando olhamos muito para o horizonte fixamos nossos olhos no macro. O micro reduz-se a nada. É uma pena. Vidas podem basear-se em instantes. São fugazes, mas podem ser intensos. E reveladores. Feito a barata ali ao canto. Feito a vida que se esvai tão rapidamente. Feito o colapso e o último suspiro.
sábado, 17 de maio de 2008
Conseqüências de uma prova de Sociologia
Essa sensação de medo é tão angustiante. Parece paradoxal dizer, mas esse medo do desconhecido já é conhecido. Inevitavelmente, a cada momento, nos confrontamos com as tais situações imprevistas e imprevisíveis. Nosso poder de prever o futuro é falho e meramente ilusório. Tudo segue uma rotina continuada. Mas o controle? O controle não é nosso. Quando dependemos só de nós mesmos a impressão que se tem é que ''sim, eu mando na minha vida''. A impressão... Talvez algo natural. Queremos determinar nossos caminhos. E temos esse direito. Mas a partir do momento em que dependemos de outras pessoas, sejam elas quem for, esqueça... sua vida está fora das suas mãos. A rédea soltou-se e a carruagem está sem freio.
É claro que nem tudo é obra do acaso. A teoria de causa e efeito se aplica diversas vezes. A nossa vida é feita de conseqüências. Inevitavelmente. Mas um dia você acorda e sem imaginar pode ter sua vida revirada. Um dia você dorme e pode não mais acordar para a vida. Num dia qualquer pessoas importantíssimas podem aparecer ou sumir. E o anel que era vidro pode quebrar-se. Depender é angustiante. Mas é impossível não fazê-lo. Às vezes há uma impressão de auto-suficiência. "Eu me basto". Não nos bastamos. Precisamos sempre de quem nos rodeia. E até mesmo de quem não o faz. A vítima que morre nesse momento do outro lado do mundo é parte integrante da sua vida. Você faz parte de um sistema, de uma cadeia. Está inserido. É ativo e passivo. É objeto e sujeito. O meio somos nós. Se percebemos isso? Na maior parte das vezes não. Nos cercamos. As vidas que importam são somente aquelas que esbarram na sua. Quando não vistas, quando não tocadas, temos a impressão de que nem existem. Mas existem. Existem e você faz parte delas. Na verdade não há muita escolha. A partir do momento em que um espermatozóide fecunda um óvulo e sua mãe descobre que a menstruação dela não veio este mês, você faz parte do mundo. Aqui fora, no seu primeiro círculo de relações, tudo está contribuindo para você. Inevitavelmente você será fruto deste meio. Inevitavelmente as primeiras palavras que aprenderá serão ditas por essas pessoas. Inevitavelmente a sua formação será feita por elas. E não há para onde correr. Você tem apenas 50 centímetros. Nasceu grandão, com 3 quilos e 400 gramas! E não tem consciência. Não aprendeu ainda a forma de dizer NÃO. O quero e não quero. O gosto e não gosto. Você até tenta. Chora. Mas você continua sendo moldado. Tanto é que quem está de fora arruma um jeitinho para que pare de chorar. E você pára. A chance é que somente quando maiorzinho, um mocinho, mude. Mas talvez até a sua escolha por mudança tenha sido meramente uma herança.
O que pode ser feito então? Retribua. Se você é fruto do meio, e o meio é composto por você, retribua. Faça valer a pena. Devolva positivamente o que lhe foi dado. Passe de objeto a sujeito. Demonstre sua capacidade de digerir o externo. Filtre! A sua arma é mútua. As ações entre você e o mundo podem ser recíprocas. Não disperdice a chance. Ela pode não lhe encontrar novamente.
É claro que nem tudo é obra do acaso. A teoria de causa e efeito se aplica diversas vezes. A nossa vida é feita de conseqüências. Inevitavelmente. Mas um dia você acorda e sem imaginar pode ter sua vida revirada. Um dia você dorme e pode não mais acordar para a vida. Num dia qualquer pessoas importantíssimas podem aparecer ou sumir. E o anel que era vidro pode quebrar-se. Depender é angustiante. Mas é impossível não fazê-lo. Às vezes há uma impressão de auto-suficiência. "Eu me basto". Não nos bastamos. Precisamos sempre de quem nos rodeia. E até mesmo de quem não o faz. A vítima que morre nesse momento do outro lado do mundo é parte integrante da sua vida. Você faz parte de um sistema, de uma cadeia. Está inserido. É ativo e passivo. É objeto e sujeito. O meio somos nós. Se percebemos isso? Na maior parte das vezes não. Nos cercamos. As vidas que importam são somente aquelas que esbarram na sua. Quando não vistas, quando não tocadas, temos a impressão de que nem existem. Mas existem. Existem e você faz parte delas. Na verdade não há muita escolha. A partir do momento em que um espermatozóide fecunda um óvulo e sua mãe descobre que a menstruação dela não veio este mês, você faz parte do mundo. Aqui fora, no seu primeiro círculo de relações, tudo está contribuindo para você. Inevitavelmente você será fruto deste meio. Inevitavelmente as primeiras palavras que aprenderá serão ditas por essas pessoas. Inevitavelmente a sua formação será feita por elas. E não há para onde correr. Você tem apenas 50 centímetros. Nasceu grandão, com 3 quilos e 400 gramas! E não tem consciência. Não aprendeu ainda a forma de dizer NÃO. O quero e não quero. O gosto e não gosto. Você até tenta. Chora. Mas você continua sendo moldado. Tanto é que quem está de fora arruma um jeitinho para que pare de chorar. E você pára. A chance é que somente quando maiorzinho, um mocinho, mude. Mas talvez até a sua escolha por mudança tenha sido meramente uma herança.
O que pode ser feito então? Retribua. Se você é fruto do meio, e o meio é composto por você, retribua. Faça valer a pena. Devolva positivamente o que lhe foi dado. Passe de objeto a sujeito. Demonstre sua capacidade de digerir o externo. Filtre! A sua arma é mútua. As ações entre você e o mundo podem ser recíprocas. Não disperdice a chance. Ela pode não lhe encontrar novamente.
terça-feira, 6 de maio de 2008
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