É difícil lidar com saudade do que está perto. A saudade do que está longe é "convencional". Mas sentir falta do que está tão próximo, tão junto, a poucos passos...
Talvez não seja de todo incompreensível. Creio que a palavra correta seja inaceitável. Inaceitável pelo fato de não haver necessidade para tal saudade. E pensando bem, nem para a que está perto, nem para a que está longe.
Criamos algumas amarras no decorrer das nossas vidas. Nos prendemos a algumas convenções e imposições que nos machucam. Alguns dos nossos maiores problemas poderiam encontrar solução no simples fato de eliminá-las. Ou ao menos minimizá-las. O ponto principal da saudade é habitarmos o mesmo mundo. Para que sofrer tanto pela falta de alguém quando não necessitamos de transcendências metafísicas? Para que se machucar tanto quando alguns passos, algumas portas ou alguns quilômetros resolveriam tudo? É realmente necessário ter que sentir falta do que está do outro lado da parede? Ao fim da rua? Na cidade ao lado? Eliminar a saudade também não é saudável. Ela alimenta e gera coisas muito boas. Alimenta a vontade de estar junto, perto, aqui. Gera a recompensa da presença após a falta. Mas não deve ultrapassar seus limites, engolir as conseqüências boas e trazer dor. Quando alcança esse patamar é hora de repensarmos o que fazer. É hora de colocar na balança se vamos esperar que as coisas possam se unir por vontade do acaso ou se somos responsáveis por elas. E, principalmente, não nos esquecermos: o futuro é apenas uma hipótese. Conjugar verbos no futuro pode ser perigoso e frustrante. O que concretamente possuímos é o agora, o já, o presente. Nossas oportunidades estão todas aqui.
Meu tempo presente nunca teve tanto valor quanto tem agora. Depois de algum tempo tendo que pensar muito no futuro, encontrei a essência do tempo-já. E como é bela. Os instantes caminham, sem correr, sem ter pressa. Caminham com uma sede de captar o que fôr possível do que já é. Sem preocupar-se em pensar o que já foi e será. O tempo de pensar isso já foi e será. Mas agora é tempo de pensar no que é. Parece repetitivo, mas que seja. Prefiro pecar pela redundância do que pela culpa da falta. Antes perder pela tentativa... Arrisco, tendo que mais uma vez desproteger a alma e dar a cara a tapa. É o risco que se corre. E eu me dispus a correr. Até quando a alma aguentar. E caso ela se despedace, não se assuste... novamente recolherei os cacos, unirei-os e me reconstruirei. É o risco que se corre. Mas o êxito vem da tentativa.
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