Quando ouviu a mãe abrir a porta do quarto com certa violência, soube que havia perdido a hora e que seu dia já começaria não muito bem. O mau humor estava estampado no rosto dela e agora era aguentar as consequências. Decidiu nem tomar café da manhã no intuito de não dar espaço para que a matriarca começasse a esbravejar logo nos primeiros 10 minutos de sua manhã, já quase hora do almoço. Arrumou a cama correndo, trocou de roupa e sentiu a pele toda arrepiada. Naquela semana, o frio foi companhia constante e fizera doer mais que o comum. Não conseguiu aquele calor necessário e congelou. Perdida em distrações, voltou à realidade fria daquele dia frio ao ouvir o barulho do aspirador de pó percorrendo os cômodos da casa. Dedicou-se a fazer o almoço, envolta em pensamentos que insistiam em pulsar, aquecendo-se minimamente em frente ao fogo azul. Almoçaram todos, mas não houve como fugir das palavras pesadas que martelariam durante o resto do dia. A comida entalou na garganta e só o que desabrochou foram lágrimas. Rolavam pelo rosto enquanto fazia o que ela tinha pedido. E rolaram mais ainda ao perceber que o pedido feito a ele não fora cumprido e que para ela isso não tinha problema. Tentar afastar o sentimento de raiva parecia impossível, otimizado pelos hormônios do mês que faziam tudo ficar à flor da pele. Precisava daquele outro ele, que durante o dia todo havia confortado minimamente na promessa de que mais tarde estaria lá para fazer o dia terminar mais suave do que começou. Mas esse definitivamente não era seu dia. Sentiu o golpe que fez arder, apertar o peito, deixar sem fôlego. As lágrimas não puderam ser contidas mais uma vez. Largou tudo como estava, quem sabe para amanhã, quem sabe com mais sorte. Agora era hora de encerrar o dia, não sem antes perguntar aos céus e todos os santos: "Onde foi parar a sensibilidade?"
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