Em uma retrospectiva breve, tenho a sensação de que no auge da juventude inconsequente, as ações davam as caras muito mais do que as reflexões. Apesar da tendência a refletir sobre a vida que sempre acompanhou meus passos, o horizonte nunca pareceu tão próximo.
Talvez as ações ainda se mantenham na constante, mas se concretizam em um momento de coragem "agora ou nunca". A vida vai acontecendo e a gente vai ficando toda reflexiva, ponderada, pesando cada migalha na balança e questionando se há coragem o suficiente.
Os tempos me fizeram mais introspectiva que o comum. Os meus olhos ainda (acredito) sinceros, mas acho que têm cruzado com menos olhares. Resguardada no casulo, fico refletindo quem é essa mulher que me tornei e, apesar de orgulhosa das batalhas que me fizeram chegar até aqui, ainda fico muda quando preciso responder a um simples "oi, tudo bem?".
Tá tudo bem de maneira geral. Talvez houvesse pensamentos o suficiente pra justificar o porquê não estaria, mas acho que tá tudo bem. As bagagens foram aumentando a ponto de precisar descansar um pouco mais antes de seguir em frente. O peso que carrego às vezes parece insuportavelmente grande, mas ao mesmo tempo me deixam contente de saber sobre as vivências que pude experienciar.
Foram 27 anos de ondas e vales, mas tá tudo bem. Um dia alguém disse que 30 anos era a idade do sucesso e que certamente seria o apogeu da vida de alguém que chega lá. Faltam 2 anos e alguns quebrados para que o foguete da balzaquiana parta por ai, estourando em sucessos e... Não. Talvez essa seja a grande frustração do período, mas encaremos sem lamentações.
Aos 27 anos ainda não conquistei os títulos que gostaria, não alcancei o emprego dos sonhos, não tenho a estabilidade financeira que os olhares me cobram, não tive filhos, não tenho um relacionamento duradouro, não dei entrada em um apartamento, não tenho maturidade emocional para lidar com infinitas situações... Não, o meu foguete ainda não está prestes a ser lançado.
Ao mesmo tempo, construí relações que me engrandeceram sem precedentes; aprendi (ou venho aprendendo) que cada dia é um passo e é um de cada vez; sei cozinhar coisas deliciosas; sou conselheira de mim mesma e até mesmo de pessoas queridas que me solicitam; aprendi a andar de bicicleta, a contemplar o pôr do sol, a trocar a resistência do chuveiro, a tirar sangue sem desmaiar, a ter responsabilidades, a falar francês, a sorrir... Também descobri e vivi uma série de outras situações que me fizeram chegar até aqui e com vontade de não querer parar.
Tenho tentado me lembrar todos os dias de que essa pressão não me cabe, porque ela me paralisa à medida em que cresce. Tenho refletido, me questionado, lidado com monstros conhecidos e alguns bem novos, mas acho que em retrospectiva breve, tô alcançando o sucesso que eu esperava de mim mesma.
Um sucesso que não se mede em patrimônios materiais, mas em me encarar no espelho e conseguir sorrir. Com a minha ansiedade, as minhas agonias, os meus desejos daquilo que quero para ontem, mas a minha calma com aquilo que quero para sempre. E o que eu quero para sempre, neste breve momento, é ter a plenitude de quem sabe que tá fazendo o melhor que pode fazer para continuar convivendo em paz consigo mesma.
Como diz uma amiga muito querida, "até agora a senhora venceu todos os piores dias da sua vida. Isso significa que a senhora está fazendo um ótimo trabalho!"
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