Era uma vez a história de duas bailarinas. Sem muitas explicações, a vida fez o favor de apresentá-las ao público e a si mesmas. Entre coques, meia calças e esparadrapos, as duas conheciam-se, despretenciosamente, como muita coisa nessa idade. Eram então muito novas para dimensionar as conseqüências que iria trazer o tal favor da vida, o que fica claro quando dizemos que ambas pertenciam à "turma das pequenas". Provas de roupas, exames com o temível professor João, alongamentos e macaquices na barra de exercícios, mães frenéticas carregando fantasias, bailarinas com anseios macrocósmicos ou jogadas ali de pára-quedas... E em meio a tudo isso, as duas. O convívio entre as bailarinas durou exatos 3 espetáculos. Depois de algum tempo, uma resolveu trocar a academia de dança por aulas de inglês e da outra nunca mais soube.
Alguns anos se passaram e a vida mais uma vez resolveu não mais deixar longe o que deveria estar perto. Por um feliz acaso, se é que ele existe, um tal site de relacionamentos fez com que as bailarinas, agora já um tanto quanto fora de forma e algumas medidas aumentadas, se redescobrissem. O termo é proposital: a falta de pretenção passada reservou surpresas para o futuro. E foram tantas surpresas boas! As meninas haviam crescido e estavam descobrindo que havia muito mais coisas em comum do que meramente os calos e sapatilhas. Era ano de vestibular e com ele as aflições, o medo e a ralação. Noites mal dormidas, anemia e meninas um tanto quanto "verdes". Mas apesar de um ano do cão, ele foi intercalado e compartilhado por algumas tantas alegrias e batidas no Lelo's. Tornaram-se tão companheiras que quando uma não mais teve companhia para tal passeio, a outra logo juntou-se a ela. Sem muita aprovação matriarcal, as duas tornaram-se as solteironas da vez. Largaram o álcool misturado ao leite com fruta e partiram para os filmes atolados em pipocas e refrigerantes, sem esquecer é claro das infinitas confabulações. Ah, as confabulações! Passariam o resto da vida praticando incansavelmente a tarefa que é tão inerente à presença das duas. Flui tão naturalmente leve quanto a vida que aprenderam a viver. Não é preciso esforço para que os assuntos saltem das bocas, os ouvidos assimilem e os olhos compreendam. E menos esforço é necessário quando a fala demonstra-se desnecessária. As bailarinas aperfeiçoaram a capacidade de se entenderem através da linguagem não-verbal.
Dizem que a sorte não bate duas vezes no mesmo lugar, mas talvez ela tenha mesmo decidido que essa amizade devia florescer. Imaginando as tais meninas sozinhas, fica difícil saber o que teria sido delas. Juntas, aprenderam a dividir o peso dos problemas, o desejo de saírem do casulo, a vontade de terem asas, os planos para quando as tiverem, a vida leve, o vôo livre, a fluidez (...) Não há como relacionar tudo o que foi partilhado se não dissermos: dividiram uma parte da vida! E não qualquer parte dela. É uma parte importante, grandiosa, embebida em infinitas possibilidades. A essa parte da vida costumamos chamar presente. A junção perfeita entre tempo e agrado. De fato, o tempo é agradável enquanto a música soa e os pés deslizam. Pés que logo contagiam todo o corpo, em sintonia com a música que toca e em pouco tempo o salão pertence a elas.
Talvez comecemos a perceber o quanto as pessoas são importantes quando imaginamos a vida sem elas. O meu salão com certeza fica muito vazio, meus pés não têm força para equilibrarem-se sobre as sapatilhas, a música ganha ruídos e a dança não flui. Enquanto os dedos tentam escrever algo que diga mais ou menos o quanto a bailarina é importante para o espetáculo da minha vida, o rádio toca POLLERAPANTALÓN. E como boa dançarina que é, você sabe que desperdiçar tal canção é imperdoável. Portanto, apenas peço: fique! Esse é apenas o primeiro ato dos muitos outros que virão. Obrigada, infinitamente. E agora, solta o som, chica!
o dono da foto:
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Um comentário:
rápido comentário, depois com mais detalhes
vou dizer exatamente o que senti: felicidade e orgulho!!! orgulho por te reencontrar nessa vida! e felicidade pq pude me lembrar de várias coisas em uma só leitura.
eu amo você, chica!
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