O que não dá pra entender é essa mania do homem de humanizar as coisas.
A maior parte das coisas que nos cercam, de uma forma ou de outra, quando caem nas mãos dos homens, são obrigadas a adquirir características humanas.
Quem nunca na vida viu uma propaganda ou qualquer outra coisa onde plantas, animais e objetos ganham olhos, sorrisos e emoções, munidas de sentimento e luta por causas desesperadas.
Qualquer embalagem de doce de leite possui uma vaquinha sorrindo, com olhos delineados, cílios cheios de rímel e acentuados com curvex. Sorrisos humanos em bocas animais. Ou seriam sorrisos animalescos em bocas humanas?
O fato é a grande prepotência do ser-homem. Talvez um resquício de sua mania de espécie superior. "Vamos dotá-los de nossas capacidades incríveis!". Só que no meio disso, muita coisa passa despercebida. Até mesmo as situações em que esses animais são colocados.
Nada mais canibal do que assistir ao frango-desenho da Sadia salivando ao ver o chester de Natal morto e dourado sobre a mesa. Não sou vegetariana e nem faço apologias do tipo "não comam carne". A intenção é somente de ''porra, deixa a planta sem rostinho meu!''.
Desde a primeira série, quando a ''tia'' mandava que os alunos desenhassem para comer o tempo e treinar a coordenação motora, o sol, a árvore, a nuvem e qualquer outro ''ser inanimado'' que houvesse no desenho possuíam os mesmos olhos e bocas da vaquinha-doce-de-leite já citada.
É natural isso? Faz parte de nossa essência buscar o próximo dessa forma? Na falta de amigos, por exemplo, juntamos 10 embalagens de leite Parmalat + R$10 e trocamos por um incrível animalzinho de estimação, já domesticado e que não vai precisar de veterinário. Quando o dia não está lá aquela maravilha, é no colo do nosso ursinho de pelúcia que comemos todo aquele pote de doce da vaquinha feliz.
Chega a ser cômico, caso não fosse trágico. Mania de buscar-se e fazer-se em tudo aquilo que nos rodeia. Queremos amigos que pensem como nós, que não discordem de nós; queremos plantas sorridentes, vacas com cílios postiços e frangos esfomeados. O semelhante a qualquer custo.
Talvez isso só reflita o quão perdidos e solitários nós somos, lá no fundo. E quanta mania de prepotência toma conta de nossas atitudes, mesmo que, na maior parte das vezes, nós nem nos damos conta.
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