Era tudo o que as 24 horas de um dia comportavam. Nem um instante a mais, nem um instante a menos. Sua vida existia diariamente, sempre começando de novo. Desconhecia o passado. Futuro nunca houve. O presente era sua única chance. Não sabe como nasceu, como eram seus pais, quem eram seus amigos mais antigos. Nem mesmo sabia quem era ela mesma. Nada prolongava-se o suficiente para aprofundar-se. A própria vida era muito fugaz, escorregadia, fluida e acabava assim! quando menos se esperava. Brincava um pouco de Cinderela, que após a meia noite e os badalos do sino tinha todo o encanto desfeito. Não importava o que estivesse acontecendo. Morria ali mesmo, para depois acordar e começar tudo de novo, sem continuidade. Pequenas vidas divididas em pequenos dias. A chance de ser várias e o risco de não ser nenhuma. Quem era ela? Nem ao menos nome, muito menos sobrenome. Sua identidade era a maior novidade do dia. Às vezes acordava Joana, às vezes acordava Maria, mas nunca sabia o que o outro dia lhe reservava. Para ela não havia outro dia. A continuidade era algo estranho que as outras pessoas falavam por ai. "Amanhã", "ontem"? Palavras inexistentes no seu dicionário. O livro da sua vida chamava-se "Diário", que nem sempre começava com um "Querido Diário...". Afinal, nem todas as suas identidades sabiam o que eram sentimentos. Há alguns que necessitam de tempo. Devem ser plantados, cultivados, na paciência de crescer aos poucos. Mas ela não tinha tempo de espera. Seu tempo corria. O espelho denunciava. A pele, que antes era tão lisa, passou a ganhar marcas. Marcas cavadas sutilmente, como artifício dos dias para mostrarem que passam. Ah, como passam! Passarão até chegar o momento de acabarem realmente. O dia em que a vida não mais acordar para a vida. O dia em que definitivamente não haverá mais futuro e o passado ficará perdido em alguma curva, enterrado por acaso em alguma esquina, como indigente que jamais existiu para a vida.
2 comentários:
essa garota ou é hiperativa ou é desocupada.
imprime tudo esses texto proce ve quantos tomos não dá
então viva.
viva o dia.
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