quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Décimo quinto desabamento

Senti uma espécie de inveja da dor dela. Aquela que já foi motivo de algumas incertezas e certa antipatia, de uns tempos para cá, e cada vez mais, tem despertado uma boa dose de afeto. Talvez seja a cumplicidade, mesmo que tão timidamente guardada. Creio que você desconheça o fato de ambas entendermos a mesma situação, com a sutil diferença de perspectivas. Talvez você não soubesse e caiu de cabeça, abriu os braços e o coração todo. E agora sofre, infelizmente. Sinto, divida em duas. De um lado o amor que tem vontade de atracar em algum porto seguro e não sentir muito mais do que marolas aconchegantes; do outro, asas como a de um beija-flor, frenéticas, ansiosas para voar adiante e não permanecer mais do que o necessário para suprir suas necessidades, mesmo parecendo no fim das contas nada mais que vontades. Olhando atentamente, creio que posso dizer ter tido sorte. Nunca houve algemas e a intenção de não tê-las era muito clara. Talvez o mais próximo que pude chegar daquilo que muitos chamam de "amor livre". Embora não saiba com certeza se era amor. Provavelmente algo mais próximo de paixão e desejo. Tinha uma forma dócil, embora arisca, que encantava facilmente, numa fluidez quase imperceptível. E é provável que as encrencas onde seu coração se meteu tenham vindo justamente daí, do imperceptível.
Caríssima, manifesto aqui minha afetividade gratuita e minha admiração discreta. Boa sorte com os ferimentos que as unhas afiadas causaram. É a característica quase primordial dessa espécie. Felinos...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Décimo quarto desabamento

Odeio odiar você, mas hoje eu odeio e agora meu sangue fervilha.
Nem o sono dá trégua...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Décimo terceiro desabamento

O sono sempre se esvai nas horas mais impróprias e a mente dispara sempre que o corpo pede arrego.
Odeio odiar você, mas parece sempre mais forte que eu.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Como, por Marcela Marx

Às vezes me pergunto como foi que cheguei até aqui,
quando dei por mim o cachorro já havia morrido,
as crianças me cumprimentavam olhando para baixo,
a grande árvore em frente de casa havia sido cortada.
Às vezes me pergunto como foi que cheguei até aqui
quando olho para meu antigo quarto e vejo as prateleiras vazias,
a trepadeira que cobriu toda a parede do muro
e agora não enxergo mais a janela do vizinho.
Às vezes me pergunto como foi que cheguei até aqui,
quando me deparo com um anel na mão esquerda de minha amiga,
me assusto com as rugas no rosto de minha mãe
e vejo a pilha de livros de minha mesa aumentando.
Às vezes me pergunto como foi que cheguei até aqui,
quando acordo e, da cama, vejo a geladeira,
a hora que cheguei em casa do trabalho
e meu avô, que não colhe mais laranjas.
Às vezes me pergunto como foi que cheguei até aqui,
sem saber como.
E me dou conta de que é caminho sem volta.

Vem daqui, ó!





Décimo segundo desabamento

Prefiro ser a pior cega, aquela que não vê as coisas que estão ali, latejando na sua frente. Minhas lentes estão em cacos...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Décimo segundo desabamento

Quando somos pequeninos, as resoluções dos problemas da vida são de uma simplicidade estonteante. Digamos que os problemas já não são em número elevado, embora existam e a gente bem sabe. Aquela briga entre primos por causa do brinquedo mais querido, a discórdia que sempre acabava em choro por causa do brócolis que a mãe insistia em colocar no prato e dizer ser tão gostoso quanto batata frita, a raiva que os meninos sentiam das meninas e vice-versa, amaldiçoando um ao outro e jurando nunca fazer aquilo que a mãe ou o pai fizeram, como beijinhos, abraços apaixonados e etc. E então o corpo vai ganhando forma, nós vamos crescendo, descobrindo tantas outras problemáticas e cada vez mais perdidos sobre como resolvê-las. Alguns conservam a leveza da infância para sempre, vendo os tais "problemas" como algo tão natural, semelhante a comer ou dormir. Eles são aquilo que animam nossa existência, nos tiram da inércia, nos tornam menos apáticos perante a vida e por ai vai... Essas pessoas são aquelas que parecem nunca envelhecer. As rugas são muito sutis, cabelos brancos quase nem se vê, e o bom humor parece dormir numa lata de formol. Outras pessoas, porém, aprendem pelo lado mais difícil. Carregam sempre a visão de que os problemas são aquilo que tiram a gente da rotina, e daí o problema. Dificilmente conseguem ver a vida de forma despretenciosa sem que antes encharquem tudo com o hábito do pessimismo. Só eles sabem o quanto carregam um peso extra que machuca, cansa e desanima. E mesmo que saibam disso, tem uma visão clara do quanto é difícil mudar um hábito. Então ganham rugas fundas, arrastam uma amargura que cada vez mais fica menos doce.. E isso sem falar nessa dor no peito que nunca passa. Ah, não passa...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Décimo primeiro desabamento

E eu que sempre detestei manuais de sentimentos, desejei um para saber qual caminho seguir ou entender quais deles sentir.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Desabamento décimo

Sei que não tenho o direito de exigir nada além de tudo o que já possuo. Tenho certeza de que é muito mais do que pessoas um dia sonharão ter. Pessoas que passam a vida sonhando com aquilo que eu sequer me dou conta.
É impossível não sentir todo esse amor que existe e é real. Quase dá pra tocar... Mas tropeçando nos meus próprios passos, perco o equilíbrio e quase destruo nossa relíquia. Consigo me perder dentro de um mundo que é tão pequeno se comparado a tudo aquilo que existe: o meu. Vejo um turbilhão na minha vida com soluções mirabolantes, mas caio em mim e percebo que tudo acontece dentro da infinitude de um copo d'água. E então esse oco toma conta de mim e aperta ainda mais o peito. Lembro de você dormindo, tão sereno, como se estivéssemos eternamente protegidos dos perigos que assombram o lado de fora. Uma lágrima escorre sem saber se é de saudade ou pesar. Aperto o travesseiro e penso o quão cega alguém pode ser dentro do seu próprio copo com água. Medo dos perigos lá fora? Como, se quem mais colocou tudo em risco fui eu, que estive tão perto?
Ganhei palavras que jamais esperaria hoje, de gente que não passa a mão na cabeça, mas lembra que muita coisa acontece primeiro aqui. Vou procurar pela coragem que perdi em algum canto enquanto me arrastava pelas paredes. E depois tudo há de ficar leve, infinitamente leve, insustentavelmente leve...

Desabamento nono

Meu peito queria urrar de dor, mas só o que conseguiu foi chorar baixinho. Fico pensando e concluo que não há nada para fazer agora. A pele queima, a garganta arde, o corpo dorme e acorda moído, mas é só reflexo. Não sei quando nem como volta, mas novamente sei que como tola que sou ficarei esperando aqui, com as marcas e cicatrizes disfarçadas, as olheiras e as lágrimas contidas e escondendo todo o resto que denuncia a guerra.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Desabamento oitavo

Relutei em desejar tudo o que meu coração explodia em sentimentos. Quis ponderar e me convencer de que "não é bem assim". Mas começo a concluir de que as coisas são exatamente assim, quer queira ou não. Quis muito, mas às vezes é tanto querer e pouco poder que nos perdemos e terminamos a noite mandando tudo à merda. Mais algumas aspas vazias e alguns parênteses ocos.