segunda-feira, 16 de junho de 2008
Fluxo de (in)consciência
Perdão se estou novamente invadindo um espaço que não é meu. Por um momento sem tempo contado minha consciência não existiu. Desapareceu como água pelo ralo. Ou mais do que isso, pois não deixou rastros. Talvez faça parte deste novo processo. Este que ainda é muito confuso para mim. A casa amanheceu revirada. O lugar das coisas já não mais existe. Nem as coisas existem mais. Olho para o lado e parece que não pertenço a este lugar. Não fosse pelo fato de eu estar aqui. Sou eu quem está aqui e talvez este seja o último fio da minha consciência antes de desaparecer totalmente. Eu tenho frio e estou um pouco assustada, confesso. Não sei ao certo por onde começar. E nem sei como fazer isso. As coisas se iniciam pelo início. Mas qual é o início das minhas coisas? Eu possuo algo a que posso chamar de meu? de minhas coisas? Não estou certa disso. Minhas mãos geladas me tiram a concentração. Elas doem. Mas eu continuo com os olhos espantados e as mãos intactas, sem coragem de tocar nos objetos ao meu redor. Os dedos recuam, querem desaparecer, assim como a minha consciência. Desejam ser luva pelo avesso. E eu estou do avesso. Meu lado não era esse. Eu não era ontem esta que amanheci. A que levantou da cama nunca havia me visitado antes. Chegou feito visita que não avisa, mas já tinha a chave da porta. Não pediu licença. Simplesmente entrou. Nao sei ao certo se lá fora é dia ou noite. Minha cabeça está confusa. As coisas estão rodando, nubladas, foscas. Será ressaca, enxaqueca, apanhei? Perdi a consciência e não tenho a memória boa. Esqueço algumas coisas que me fazem falta. Talvez tenha esquecido como esta casa acordou assim e o porque estou eu assim. Socorro. Deveria chamar por socorro? Quem há de me ouvir? Ninguém nunca me ouve. Minhas palavras passam mais leves do que o vento pelos ouvidos alheios. Nada representam. São como vácuo. E isso me incomoda. Algumas vezes gostaria de ser ouvida. Nem que por sussurros. Será que ainda sei falar? Acho que me é estranho fazer isso. Penso que há tempos não o faço. Falar? Talvez. Por enquanto, me contentaria em entender. Entender para mim, sem ter que contar para alguém. Mas, mesmo que soubesse falar e quisesse contar, faria para quem? Acho que não tenho amigos. Não me lembro de outros rostos que não este meu, assustado, diante do reflexo na janela. Perdi a ordem das coisas. Os encaixes desapareceram. A ordem me confortava. Tinha um colo para correr. E agora estou órfã. E nem ao menos sei gritar por socorro. Será que conseguirei dormir? Talvez deitar-me agora e cair no sono me fizesse crer que tudo isso é um sonho. Será? Não sei se tenho coragem de tentar. Esta chance pode não vir nunca mais. Esta sensação pode não se repetir. A oportunidade de um novo início. Acho que quero começar um novo início. Creio que é o único modo de prosseguir. Perdi o meu passado. Não consigo me lembrar de nada. E hoje jamais me arriscaria a qualquer futuro. Estou assustada demais para isso. Quero somente entender e ficar aqui. Já. É. Se houver alguém ai, por favor, pegue a minha mão. Não se assuste com a sua temperatura. Elá há de ficar mais quente quando o temor passar. E estes tremores que você possivelmente sentirá são dela também. Mas tudo há de ganhar calor. Acredite. Mas por favor, se houver alguém, pegue minha mão. Estou sozinha e tenho muito frio. Me mostre o lugar mais quente para eu ficar. Eu preciso de calor. Me guie. Os meus olhos estão nebulosos. O vulto das coisas... é só o que enxergo.
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