É tempo de sentir medo. Tempo em que as rédeas estão se afrouxando. Tanto, a ponto de perderem-se no galope da carruagem. Mesmo sendo o controle algo ilusório, nele há uma sensação de conforto. Uma espécie de auto-engano no que diz respeito a previsões. Mas e quando não resta nem a ilusão? E quando estamos nitidamente sem controle? As emoções seguem um fluxo confuso, descontínuo. Caminham para um lugar que não sabemos qual. Não há visão do horizonte que nos aguarda. Estamos vendados frente a paisagem. Ela existe, mas não temos idéia de qual seja. Quando o trilho chegar ao fim e a claridade tomar conta dos nossos olhos, pode ser que nos deparemos com uma visão idílica. Mas pode ser também, que ao contrário, haja somente destroços e um aperto no peito. Essa é a real essência. A essência pura, liberta de auto-enganos. Aquilo que apenas se sente, mas não tem nome, não tem regra, não tem planos. Simplesmente é. É na pureza e espontaneidade de ser. Vai assim, sendo. E ao mesmo tempo em que aflige, traz sentimentos bons. É um sacrifício que vale a pena. O encanto do imprevisível. A chance do certo e errado, puramente simples. Os pés caminham com cuidado. Não é preciso correr. Correndo, perde-se o presente. Os detalhes ao lado, aqui, bem perto. Atente os olhos para o que é já. Não se preocupe com o que poderá ser um dia. Se puder e tiver que ser, simplesmente será. Virá. Não é preciso que se preocupe. O amanhã pode acabar hoje. E o futuro já foi, agora. E quanto ao passado? Somente conseqüências de um presente. E para que este passado seja agradável de lembrar, é preciso que este presente tenha sido bem vivido. O encanto do agora. Quero não o que já foi, nem o que possivelmente será. Quero o agora, o já, o é! O é, sem "ter sido", sem "que será". O medo existe. E talvez seja necessário. É o nosso ponto de equilíbrio. Aquele que nos diz ''vá'' ou ''fique''. O que pondera nossos instintos e nos liberta da razão. Basta termos o medo como amigo. Não adianta nos sentirmos ameaçados como por um inimigo. Ele é companheiro, é companhia. E será, sempre. Se não pode contra, alie-se. Ter medo não é ter covardia. Pedir ajuda não é feio. Os ombros não suportam o mundo sozinhos. Às vezes é preciso saber disso. Saber e gritar por socorro. Gritar a quem pode ouvir.
É só uma pena que às vezes percamos a fala. A boca seca, a garganta trava e a voz emudece. E são nessas horas que devemos pedir auxílio. Auxílio aos olhos, que brilham e demonstram o que gostaríamos de dizer. Auxílio à boca, que sorri e mostra o que a voz não permitiu sair. Auxílio às mãos, que confortam tanto quanto as palavras que estão secas na garganta. E assim, auxílio a todas as partes do corpo, que milimetricamente demonstram o que talvez palavras não conseguiriam expressar. Só são necessários olhos atentos. A pureza das coisas só é perceptível a olhos também puros. "Ver com olhos livres". Para captar a essência sutil, é assim que deve ser. E corra o risco. Saiba corrê-lo. É necessário. O êxito também depende dele. Aqui, de nada temos certeza. Somos carruagem sem freio, solta no mundo sem saber porque, sem saber como, sem saber onde. Mas esse não é o ponto importante. O mais importante é que simplesmente sejamos!
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