A vida parecia um cobertor pesado que, enquanto arrastava-se pelo chão, carregava tudo o que conseguia. Vivia no inferno e sabia bem disso. Sentia o peso do caos todos os dias, quando acordava e quando ía para a cama desmaiar de tanto cansaço. Há tempos não sonhava, talvez porque até para isso estava exausta. Era uma panela de pressão sem válvula de escape. Sentia que tudo ao seu redor fervilhava, ao mesmo tempo em que nada era quente o suficiente para confortar. Objetos frios, pessoas frívolas, olhares congelantes, concreto, concreto, concreto...
Escolheu em meio à bagunça aquele vinil preferido, que parecia aguardar por ela há muito tempo. Levantou a tampa da vitrola e colocou-o para rodar. Olhava para os movimentos circulares do disco, enquanto lá do fundo emergia uma sensação de um torpor angustiante. Ultimamente estava no misto das coisas. Não diferenciava mais nada nitidamente. Tudo era partido ao meio e fundido a outras metades. Sentia como se não fosse mais nada por inteiro. Não alcançava êxtase, não alcançava o gélido... era morna. Morna, sem sal nem açúcar, em cima do muro, entre cá e lá. A vitrola emitia sons que penetravam lá no fundo e pensou como estava deixando as coisas passarem tão longe. Marginalizada de sua própria vida, os olhos não mais dirigiam-se a ela, as bocas, as mãos, os afagos, os tapas... Nada, parecia que não tinha mais nada. Um fantasma perambulando pelo mundo dos vivos. Sabia que não mais vivia, apenas prolongava. E a música continuava a tocar, ecoando pela sala suja, vazia, cheia de nada. Oca. Socorro-socorro-socorro-soco-so...
Escolheu em meio à bagunça aquele vinil preferido, que parecia aguardar por ela há muito tempo. Levantou a tampa da vitrola e colocou-o para rodar. Olhava para os movimentos circulares do disco, enquanto lá do fundo emergia uma sensação de um torpor angustiante. Ultimamente estava no misto das coisas. Não diferenciava mais nada nitidamente. Tudo era partido ao meio e fundido a outras metades. Sentia como se não fosse mais nada por inteiro. Não alcançava êxtase, não alcançava o gélido... era morna. Morna, sem sal nem açúcar, em cima do muro, entre cá e lá. A vitrola emitia sons que penetravam lá no fundo e pensou como estava deixando as coisas passarem tão longe. Marginalizada de sua própria vida, os olhos não mais dirigiam-se a ela, as bocas, as mãos, os afagos, os tapas... Nada, parecia que não tinha mais nada. Um fantasma perambulando pelo mundo dos vivos. Sabia que não mais vivia, apenas prolongava. E a música continuava a tocar, ecoando pela sala suja, vazia, cheia de nada. Oca. Socorro-socorro-socorro-soco-so...
Um comentário:
Como eu faço pra seguir seu blog? Adorei!
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