sexta-feira, 8 de maio de 2009

Suspiro apertado

O sol perdia a nitidez enquanto mais uma lágrima rolava. Pensou que esses eram os momentos em que o frio daquele líquido salgado unia-se ao calor daquele grande círculo em chamas. Em chamas também estava seu corpo, ardendo febre. Correu para debaixo daquele seu cobertor preferido, feito pelas mãos tão cuidadosas da avó. Sentiu tanto quando ela partiu, um nó tão apertado que não deixou que uma lágrima sequer rolasse. E agora eram tantas...
O estômago revirava, num misto de fome e rejeição. Não comera nada durante o dia todo e lembrou dele dizendo que ela precisava se alimentar melhor. Talvez sentisse que já andava fraca, já que a palidez era visível. Invisível era apenas a fraqueza interior. Bastava acordar para sentir que estava prestes a desfalecer. O coração apoiava-se no que podia, mas não aguentaria muito tempo... Lutava para manter-se ao menos batendo. Deixara de sentir havia tempos. Mas sentimentalidades era algo que ninguém mais tinha coragem de cobrar daquele pobre. Era um doente em estado terminal, com bilhete de partida já em mãos. A única coisa que sobrou foi o medo. Mesmo sabendo que a situação nunca mais seria revertida, sentia medo de ir embora. Poderia ser tão de repente, né? E se não desse tempo de se despedir? Ficaria eternizada a sensação de ''algo ficou para trás'', como já estava acostumado. Porém, o caminho estaria fechado dessa vez. Suspirou apertado...

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