sexta-feira, 8 de maio de 2009

Desabafo

Escreve como quem precisa desabrochar e exalar ao mundo a essência que contém. Boa ou ruim, depende dos julgamentos alheios. Cada qual com o seu, cada qual para si. Para ela era difícil decidir. Sentia como se possuísse nas mãos o mundo todo de possibilidades, ao mesmo tempo em que sabia (sabia?) que era, no fim das contas, somente algumas possibilidades bem sucedidas. Ok, talvez não tão bem sucedidas, mas simplesmente executadas. Constantemente algumas, raramente outras. Estava ali, viva, sendo e existindo como a vida permitia. A vida e ela mesma, pois mesmo que teimasse em lutar contra algumas tantas vezes, sabia que barrava a si mesma logo no princípio de tudo. E depois vinha a sensação de que algo havia ficado perdido lá trás. E angustiava. Lembrou-se da frase que havia lido, algo referente a "tempo morto". Pensou um pouco e ficou em dúvida sobre o que pensar mais. Provavelmente tivera tempos mortos na vida, daqueles bem apáticos, onde nem o vento soa. E então lembrou-se de uma de suas características, talvez até tida como qualidade: a senhora criadora e incentivadora de crises. Não! Não conseguia manter-se em condições diversas sem qualquer adversidade. Precisava daquele gosto amargo da tristeza assim como do gosto tão doce que era estar feliz. Angustiava mas gostava de angustiar. Não aos outros... somente a si mesma. Veneno e cura produzidos por ela, em doses nem sempre homeopáticas, algumas vezes aplicadas em tratamentos de choque. E então a cabeça revirava, um tanto quanto perdida em sono, alucinações, sanidade... Sentia vontade de gritar, sair às ruas, sentir o vento balançar os cabelos e arrepiar a pele. Queria sorrir para as pessoas, fazê-las sentirem-se ao menos notadas num cotidiano onde olhares mal se cruzam e ganharam o hábito de se evitarem. O mundo parece mais escorregadio, envolto em algo que o faz vazar... Socorro, temos um vazamento aqui! Mas definitivamente não é isso o que ela gostaria de gritar. Aliás, bastava dizer ao pé do ouvido, desde que houvesse os olhos... E pensou que nem precisaria dizer nada. Os olhos naturalmente se entenderiam...

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