A música que soava ao fundo era melancólica com um tom de graciosidade. Algo como as marchinhas de carnaval repletas de melodias alegres mas com conteúdos pingados de lágrimas. Ouviu atentamente por alguns instantes e em seguida pediu ao garçom que lhe servisse mais uma dose. "Mas uma dose daquelas, sr. Antônio!". Sr Antônio era garçom daquele boteco há algumas décadas. Dizia que já havia visto de tudo por ali e orgulhava-se disso. Eram olhos que a terra provavelmente haveria de comer com gosto. Sr Antônio logo pegou a garrafa e despejou no copo daquela que ali estava na frente dele desde as quatro da tarde. Sabia que ela mal acharia o caminho de casa e que ele mais uma vez se atrasaria para chegar à sua. Ela não sabia ao certo como fora parar ali. Saiu da casa dele envolvida numa confusão entre o que era real e o que era devaneio. Acreditava que tinha ouvido ele falar que não queria mais, que era melhor parar por ali. Mas já havia dias que ela não dormia direito, sonâmbula, insone. A mente fervilhava, frenética. Tudo parecia muito rápido para um corpo que se arrastava devagar. Atravessando a rua, esperou que o semáforo apagasse e acendesse duas vezes, até voltar a si mesma e atravessar... enquanto ele indicava vermelho aos pedestres. Rodou no próprio eixo tentando desviar das latas que se locomoviam e ouviu palavras agressivas antes de cair no asfalto quente daquele dia infernal. Foi quando sr Antônio perguntou se ela precisava de ajuda. E ajuda era o que ela mais precisava! Disse a ela que estava já atrasado para o trabalho e por isso não poderia acompanhá-la até em casa, mas caso ela quisesse acompanhá-lo, seria ótimo ter companhia. Lá encontrou não só o companheiro Antônio, mas Johnie Walker e toda a trupe. Afogou-se em goles, arriscou alguns passos de dança, pediu a última dose (daquelas!) e finalmente deixou o corpo perder-se no repouso que tanto clamou. Mas a mente.... a mente nunca pára!
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