terça-feira, 19 de maio de 2009

E então...


Sentia um nó na garganta daqueles inexplicáveis. Nunca sentiu o peito tão apertado como agora estava. Repetia para si mesma como odiava surpresas e o quanto queria viver longe delas. Era mais fácil assim, planejando e tentando prever os acontecimentos. Mas daquele dia em diante a vida saiu dos eixos e a cada dia aparecia com uma novidade inesperada. Primeiro ele, depois a pancada. Acertou em cheio e ficou zunindo na cabeça pelo resto da vida. Conheceu mais um momento de epifania, como um flash que depois faz tudo voltar à escuridão novamente. Mas era um flash dolorido, daqueles que nos faz levar as mãos aos olhos, na tentativa de nos protegermos. Tão de repente, sem avisos, sem dicas. Sem caminho que levasse ao clímax da situação, caiu de para-quedas em meio ao desalento. Conheceu gostos amargos e sentiu como algumas coisas podem ser difíceis de descer garganta abaixo. Mas esforçou-se e desceram, já que sempre tivera o costume de engolir tanto as frutas quanto os caroços. Quis gritar, chorar até que o cansaço invadisse corpo e mente para fazê-la ao menos dormir, correr sem freio e sem destino, ir embora, ficar afastada, enterrar a cabeça na areia e não ver a cara do mundo durante muito tempo. Mas só o que conseguiu fazer foram algumas expressões incontidas de surpresa e dizer que tudo estava bem, enquanto sentia medo de vê-lo daquela forma em suas mãos. Trêmulo, transparecia um misto de tristeza e desespero. A cabeça dela girava transtornada, sem conseguir deixar nítida a linha entre sonho e realidade. Caminhou em torpor pelo resto da noite, como numa alucinação um tanto quanto real. A dor era de verdade... Sentia pontadas e aquele nó. Oscilava entre a respiração calma, até que qualquer coisa desencadeasse o ar pesado que entrava como aço nos pulmões. Cortou como faca e algumas provavelmente ficaram. A cada movimento algumas machucam mais ou menos, latejam e clamam para serem retiradas dali. Mas ela não sabe o quão fundo foram enterradas. É preciso calma e paciência para retirar todas e não deixar que nenhuma seja esquecida. Pediu aos céus qualquer ajuda que pudesse amenizar essa dor o mais cedo possível e deixou que o corpo afundasse em algum lugar do mundo.

Nenhum comentário: