domingo, 8 de fevereiro de 2009

As Paredes


Aquela música tocou novamente. E como reflexo instantâneo, você surgiu em minha mente na velocidade da luz. E como luz, iluminou. A mente expandiu ao mesmo tempo em que memorava. Planos e lembranças confudiram-se, entrelaçaram-se e meu sorriso se abriu. Em meio a todo aquele movimento, pessoas que mal se olham e tampouco sorriem umas às outras, era o meu sorriso que não conseguia se conter. De repente eu percebi o quanto você está em mim, mesmo estando tão distante. A lembrança do cafuné desengonçado que você fazia trouxe aquela sensação boa, de que o mundo não acabaria naquele instante. Caminhei um longo caminho como se o levasse ao meu lado, segurando pela mão e desejando chegar em casa, para que fôssemos eu, você e as poucas paredes. Teriam também elas lembranças? Imagino quem não as tem. É uma vida com pequenos inícios perdidos entre vários finais. Mas naquele momento eu não tinha fim. Meu corpo era apenas um pequeno pedaço de mim e mal cabia no mundo. Éramos infinitos. Perdia-se a noção do tempo, dias e noites seguiam-se sem que sentíssemos o passar, não havia fome, frio, sede... Havia apenas o que estava ali: eu, você e as poucas paredes. Quando a chuva começou a cair, percebi que havia errado o caminho. Mais uma vez. Suas gotas geladas fizeram com que as memórias se dissipassem e a realidade voltou. Você foi embora. Agora somos apenas eu e as poucas paredes. Geladas, mudas e cegas. Mas talvez o seu branco só reflita o que sou eu. E essa sou eu agora: parede. Olhei no relógio e já estava atrasada, sem saber exatamente para que. Corri, sem olhar para trás.
Parecia tão eterno. Mas era apenas terno.

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