.jpg)
Reza a lenda que a chuva deixa as pessoas mais tristes, sensíveis talvez. Quem sabe com ânsia de compartilhar o aspecto molhado, lágrimas caindo incessantemente até que o cansaço chegue. É sentir-se esvair em líquido salgado que escorre pelo rosto sem saber ao certo onde terminará. Talvez encontre a boca, talvez encontre a folha de papel no qual aquelas confissões todas estão sendo feitas. Talvez não encontre ninguém e morra solitária, como aquela que a fez cair.
Ouve os pingos batendo na calha. Lembra-se de seu coração, tão metálico. Após tantas lágrimas, hoje é apenas um pobre enferrujado. Não sente mais batidas, exceto as do líquido que após bater, escorre. O choro é como ácido que corrói o órgão já tão debilitado. Não adianta mais chorar. Mas é um hábito difícil de se desvincilhar. Vai assim, consumindo, pois não descobriu viver de outro jeito. Dor é algo que faz parte do cotidiano como o sol e a lua. Não lembra de ter um dia aprendido a sonhar. A realidade sempre vinha na frente. Abria alas e fechava as portas. A existência era demais, o excesso. Sobrava vida. Para que tanta? Prolongava. Em torpor, ía deixando escorrer, como a água da chuva. Em torpor, como as lágrimas que ainda insistem em cair. Agora. Ouça! (...)
foto: Vitor Moraes (www.flickr.com/vitormoraes)
foto: Vitor Moraes (www.flickr.com/vitormoraes)
Nenhum comentário:
Postar um comentário