quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Sem aplausos


Era a rainha do drama. Sua vida era constantemente uma encenação, repleta de alegrias e tristezas programadas. Tudo era exagerado, mas nada espontâneo. Explodia a qualquer momento, diante de qualquer desculpa. Fosse o estopim ínfimo ou grandioso, deveria ser apenas quando ela quisesse. Às vezes com platéia, conhecidos ou não; outras vezes, somente ele e ela. Até mesmo sozinha não cansava de encenar. Era um hábito do qual não se desvincilhava. No guarda roupa, uma infinidade de máscaras e adereços. Jamais estava de cara limpa. Para comprar pão uma, para ir à festa outra. Preparava-se para os eventos de sua vida. Queria prevê-los todos e assim escolher as vestes que melhor combinavam com a ocasião. As pessoas ao redor ficavam confusas. Não sabiam exatamente se aquela ali, diante deles, era a mesma pessoa que outrora também estivera. "Era tão amável..." O verbo era sempre conjugado em tempo passado. Ela jamais ''é'' alguma coisa, não consegue manter-se constante. Foi milhares, mas nunca plenamente. Assim como as atrizes e seus diversos trabalhos, quando o fim chega é preciso dizer adeus às personagens que um dia foram. Uma parte dela sempre ía embora a cada despedida. Talvez já não houvesse mais nada dela nela. Suas máscaras, suas vestes e suas fantasias sugaram para si o que a pertencia. Eram mais humanas do que a pequena atriz. Não havia mais emoção. Aquele sentimento que vinha lá do fundo do peito, transbordava como um prisioneiro que revê a liberdade, não.. isso não havia mais. Todos os sentimentos eram adestrados e catalogados. Como era fria! E hoje, cada vez mais. Talvez no dia em que todos deveriam chorar sua partida, hão de receber o roteiro da peça que se encerra. Mas não haverá aplausos. E fim!


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