A sensação era como se uma avalanche tivesse principiado a cair. Formou-se em algum lugar com origem desconhecida, com problemas e situações que ela insistia em deixar para depois, mas que mesmo assim eram muito bem conhecidas. Era um erro antigo, que trazia sempre as mesmas consequencias, mas que jamais conseguira consertar. Por ficarem lá, sempre escondidas aos olhares do dia-a-dia, nunca sabia o momento em que aquela grande bola, repleta de seus problemas, desceria sem piedade. Despencava na sua cabeça e quando chegava ao chão, após o baque, por onde quer que se olhasse havia os tais espalhados. E ai se dava conta de quão mais fácil era repará-los assim que apareciam. Postergá-los não significava resolvê-los, já não tinha aprendido? Não, não tinha. E então passava dias onde nada supria e nada trazia as cores de volta. Era um branco frio, de um tom que doía aos olhos. Desprotegida, sem amparo, buscava alguma forma de sumir com tudo aquilo de fato. Lembrou-se que não dava mais para esconder debaixo do tapete. Era necessário encarar seus desejos não concretizados, suas vontades inalcançadas, as pessoas que estavam tão longe, aquelas que desapareceram deixando apenas saudade, a vontade fundida com o medo do novo... Nossa, por onde começar? Enxugou as lágrimas que incessantemente não paravam de cair. Os olhos já inchados clamavam por descanso, a mente já confusa pedia tempo para respirar, o coração já tão apertado dava sinais de que não aguentaria por muito tempo. Das outras vezes, estagnara justamente nesse ponto. Mas falhar novamente em algo que já havia se repetido tantas vezes... Respirou fundo e começou a pegar os cacos que estavam no chão. Recolhia-se. Cada pedaço espalhado era uma parte sua que não havia resistido. Será que era tão fraca assim ou o mundo andava mesmo muito cruel? Lembrou-se de que ninguém havia dito que viver é fácil. Escolheu uma estrada e principiou o caminho inverso. Era hora de reencontrar-se.
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