Sentiu saudades de gente. Não era uma gente comum, que ela encontraria em qualquer multidão. Era saudade daquela gente que conseguia fazer do seu dia mais pálido um quadro com matizes infinitas, que exalava cores e boas sensações. Sentia como se algo tivesse feito com que todos desaparecessem de uma vez. Só havia restado ela, cuja companhia era ela mesma, com toda a saudade e as sentimentalidades que tinham se otimizado tanto. As proporções aumentaram e tudo era muito mais agora. Os ruídos desconhecidos causavam medo, sem mais o ímpeto curioso de querer descobrir o que eram ou de onde partiam. Sentiu um aperto no peito e pensou que isso só aconteceria se ela estivesse aqui. Ligou o rádio e apurou os ouvidos, numa tentativa de levar o som à alma e quem sabe animá-la para uma pequena dança, quem sabe. Mas lembrou-se de que a música, as danças e os infinitos passos pelo salão só tocariam a alma se ele estivesse aqui. Abriu um livro, leu algo que fez tanto sentido e quis ir além. Queria confabular, dizer o que achou, ouvir impressões, repletas de razão ou não. E então se deu conta de que confabular só era pleno quando ela estava junto, fazendo com que o mundo ficasse pequeno perto de tudo o que ali era dito. Achou melhor dormir e bem tentou acomodar-se na cama. Virou, revirou e percebeu como o corpo dele fazia falta ao lado do seu, cuja completude nunca fora tão clara. Acendeu vários cigarros, um atrás do outro, como que para abafar toda a inquietude que sentia. Mas as tragadas só faziam o peito apertar ainda mais. Que saudade de quando ele me convidava para deixar uma aula qualquer pela metade e sairmos para fumar em algum lugar calmo, onde éramos só nós dois. Até mesmo o computador tinha ficado insuportável. Nunca o sentira tão frio! Atinou para a capacidade dele de tornar a tela mais fria algo morno, aconchegante, que acolhe como um abraço macio. E que saudades do abraço, do colo, do olhar, do cheiro, da pele que encostava na outra, que de tão sensível arrepiava. Tudo remetia a alguém que por razão desconhecida havia desaparecido. Indagava-se como todos puderam fazer isso com ela e chegou a uma conclusão simples: eram humanos. Erravam, acertavam, faziam bem, faziam mal, estragavam ou consertavam qualquer dia de sua vida. Pedia-lhes o mínimo e nem isso obtivera. Mas estavam perdoados, pelo simples fato de serem como ela. Humanos. Afinal, o que é mínimo, qual é o máximo, quais são os limites, quem tem o direito de cobrar? Uma lágrima rolou enquanto ela arrumava as malas para pegar uma estrada qualquer e ir à procura daquela gente. E que saudade!
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