Buscava um canto somente seu. Um lugar onde reinasse tudo o que a ela pertencesse, onde as pessoas não entrariam, mas hipoteticamente diriam "é a cara dela". Seria uma extensão de si mesma, já que ultimamente sentia-se tão apertada. Era desconfortável estar somente ali, enclausurada como se estivesse em uma solitária há milênios. Ora úmido demais, ora seco demais. Oscilava sempre, não conseguindo manter seus sentimentos numa constância compreensível. O único ponto eternamente dela era sua falta de amor-próprio. Céus, como era difícil gostar de si mesma. A cada dia descobria mais defeitos que com o passar do tempo tornavam-se insuportáveis. Sentia explosões de tristeza, mas logo resignava-se à sua condição cada vez mais funda. Profunda era, mas de uma profundeza melancólica. Não orgulhava-se de ser um grande poço de emoções amargas, cavado a custa de muitas e muitas feridas. Por um tempo buscou maquiar-se e disfarçar todas elas. Mas cansou-se e resolveu sair do casulo. A cada vôo sentia seu corpo arder-se em brasa. Como as pessoas eram cruéis com quem tanto precisava de ajuda. Os olhares alheios evitavam os seus, mas em encontros desavisados sentia dardos cravando no fundo de sua retina. Após tanta dor prolongada, resolveu trancafiar-se no seu tão sonhado paraíso solitário. Rabiscou um anúncio no jornal, visitou o apartamento e encantou-se com as grandes janelas e a sacada que abrigaria suas noites insones e a fumaça que desprendia-se dos infinitos cigarros. É aqui! E ali foi.
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